Big data e Relações Internacionais – Importância e usos em 2024

Big data e Relações Internacionais Importância e usos em 2024

O campo das Relações Internacionais historicamente engloba diversas áreas do conhecimento, como política, economia, história e filosofia. Recentemente, contudo, a tecnologia, em especial o Big Data, surgiu como um novo vetor de análise e aplicação, redefinindo a atuação de internacionalistas. Este artigo explora o conceito de Big Data, sua aplicabilidade e seu potencial transformador nas Relações Internacionais.

O que é Big Data?
Big Data se refere à gestão e análise de enormes volumes de dados, os quais não poderiam ser tratados por métodos tradicionais devido à sua complexidade. Esta tecnologia permite insights profundos e decisões baseadas em evidências em tempo real, transformando áreas como o comércio, saúde e, agora, as Relações Internacionais.

Big Data transcende uma simples definição devido à sua vasta aplicabilidade e ao impacto em diferentes campos. No cerne, Big Data é caracterizado pela coleta, análise e interpretação de volumes massivos de dados que são complexos demais para serem processados por sistemas tradicionais de gerenciamento de dados. Esse fenômeno é frequentemente sintetizado através das “três Vs”: Volume (quantidade de dados), Velocidade (rapidez de processamento) e Variedade (tipos e fontes de dados).

Viktor Mayer-Schönberger e Kenneth Cukier enfatizam o potencial do Big Data para desvendar padrões ocultos e prever tendências, transformando decisões baseadas em intuição em análises baseadas em evidências. Eles argumentam que o Big Data permite uma “mudança de mindset”, onde a quantidade de dados pode compensar a falta de qualidade ou precisão específica (Mayer-Schönberger & Cukier, 2013).

Dan Ariely, renomado psicólogo e autor de “Previsivelmente Irracional”, oferece uma perspectiva cautelosa, destacando que Big Data oferece enormes potenciais, mas também adverte sobre o risco de se perder no mar de dados sem interpretá-los corretamente. Ele sugere que a chave para o Big Data não está apenas em coletar informações, mas em fazer as perguntas certas.

Geoffrey Moore, consultor e autor de “Crossing the Chasm”, vê o Big Data como uma força disruptiva que muda a maneira como vivemos e fazemos negócios. Para Moore, o Big Data não é apenas sobre análise de dados, mas sobre como esses dados podem ser usados para criar novas estratégias de mercado, produtos e serviços inovadores.

Exemplos Práticos:

Saúde Pública: A utilização do Big Data para analisar registros médicos, resultados de exames e padrões de doenças pode melhorar diagnósticos, tratamentos personalizados e prevenção de epidemias. Por exemplo, o Google Flu Trends utilizava dados de pesquisas para prever surtos de gripe em diferentes regiões.

Segurança Pública: Departamentos de polícia, como o LAPD (Los Angeles Police Department), empregam algoritmos de Big Data para prever crimes antes que eles ocorram, com base na análise de padrões históricos de criminalidade e dados demográficos.

Gestão de Desastres: Análise de Big Data em tempo real pode ser crucial para prever desastres naturais, como terremotos ou furacões, permitindo evacuações mais eficazes e gestão de recursos de emergência.

Mercado Financeiro: Bancos e fundos de investimento usam Big Data para análise de mercado, previsão de tendências econômicas, avaliação de risco de crédito e personalização de produtos financeiros para clientes.

Impacto do Big Data nas Relações Internacionais

Viktor Mayer-Schönberger e Kenneth Cukier (2013) destacam o Big Data como essencial na abordagem de questões globais, como mudanças climáticas, saúde pública e desenvolvimento econômico. Projetos inovadores já utilizam esta ferramenta para compreender e antecipar fenômenos sociais, econômicos e ambientais, demonstrando o potencial do Big Data em promover intervenções estratégicas e prevenção de crises.
A capacidade de analisar e interpretar dados em grande escala permite ao internacionalista uma compreensão mais profunda de dinâmicas globais e regionais. Essa habilidade é crucial para prever e mitigar riscos de conflitos, crises humanitárias e violações de direitos humanos, posicionando o profissional como um elemento chave na formulação de políticas e estratégias internacionais eficazes.

Uso e aplicações do Big Data

Big Data é um conceito que tem transformado o modo como empresas e organizações ao redor do mundo operam, tomando decisões mais informadas e estratégicas baseadas em análises de grandes volumes de dados. Abaixo, detalhamos o funcionamento do Big Data, abordando desde a estratégia inicial até a tomada de decisões baseadas em dados.

Estratégia de Big Data

A implementação eficaz do Big Data começa com a definição de uma estratégia sólida, que alinha as metas do negócio com as capacidades de análise de dados. Esta estratégia deve considerar:

  • Objetivos do Negócio: Definir claramente o que a organização pretende alcançar com o Big Data.
  • Infraestrutura Tecnológica: Avaliar a capacidade atual e as necessidades futuras para armazenamento, processamento e análise de dados.
  • Governança de Dados: Estabelecer políticas de qualidade, privacidade e segurança dos dados.

Identificação e Integração de Fontes de Big Data

As fontes de Big Data são variadas e podem incluir:

  • Internet das Coisas (IoT): Dispositivos conectados que geram dados continuamente.
  • Mídias Sociais: Informações geradas por usuários em plataformas como Facebook, Instagram e Twitter.
  • Sistemas de Gestão: Dados provenientes de ERPs, CRMs, entre outros sistemas internos.
  • Data Lakes e Nuvem: Repositórios que armazenam dados em diversos formatos, acessíveis para análise.

A integração dessas fontes é fundamental para uma visão holística dos dados, permitindo análises mais completas e insights mais profundos.

Gerenciamento de Dados

O gerenciamento eficiente de Big Data envolve:

  • Acesso e Armazenamento: Utilizar soluções de armazenamento que sejam escaláveis e econômicas, como a computação em nuvem.
  • Qualidade e Governança: Garantir a integridade e a segurança dos dados, estabelecendo regras claras de acesso e uso.
  • Preparação para Análise: Organizar e limpar os dados para facilitar análises precisas e eficazes.

Análise de Dados

A análise de Big Data pode ser realizada de diversas formas, dependendo dos objetivos específicos da empresa. Isso pode incluir:

  • Análise Descritiva: Para entender o que aconteceu.
  • Análise Preditiva: Para prever o que pode acontecer no futuro.
  • Análise Prescritiva: Para determinar quais ações tomar com base nas análises.

As tecnologias de análise de Big Data permitem não apenas processar grandes volumes de dados, mas também identificar padrões, tendências e insights valiosos que podem orientar decisões estratégicas.

Tomada de Decisão Baseada em Dados

A fase final envolve utilizar os insights gerados pela análise de Big Data para tomar decisões informadas. Isso permite às empresas:

  • Otimizar Operações: Melhorando a eficiência e reduzindo custos.
  • Inovar Produtos e Serviços: Identificando necessidades dos clientes e oportunidades de mercado.
  • Competir Estrategicamente: Adaptando-se rapidamente a mudanças do mercado e antecipando tendências.

Ao adotar uma abordagem orientada por dados, as organizações podem se tornar mais ágeis, inovadoras e competitivas. A capacidade de transformar grandes volumes de dados em ações concretas é o que diferencia empresas líderes de mercado na era digital.

Big Data e Relações Internacionais

No mercado de trabalho, o domínio do Big Data eleva o perfil do internacionalista, habilitando-o a contribuir significativamente para o planejamento estratégico e tomada de decisão em contextos empresariais e governamentais. Este conhecimento é particularmente valorizado por grandes corporações e organizações internacionais que buscam antever mudanças no cenário global e minimizar riscos econômicos.

A incorporação do Big Data na prática e estudo das Relações Internacionais é mais que uma tendência; é uma evolução necessária. À medida que o mundo se torna cada vez mais interconectado e os dados se multiplicam exponencialmente, os internacionalistas devem se equipar com as ferramentas necessárias para navegar e influenciar este novo paradigma, promovendo um futuro mais seguro e cooperativo.

Referências:

Mayer-Schönberger, V., & Cukier, K. (2013). Big Data: A Revolution That Will Transform How We Live, Work, and Think. John Murray.

Guilherme Bueno
Guilherme Bueno
esri.net.br

Sou analista de Relações Internacionais. Escolhi Relações Internacionais como minha profissão e sou diretor da ESRI e editor da Revista Relações Exteriores. Ministro cursos, realizo consultoria e negócios internacionais. Gosto de escrever e já publiquei algumas centenas de posts e análises.

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