A Organização das Nações Unidas ocupa um lugar central no imaginário e no projeto profissional de muitos estudantes e especialistas em Relações Internacionais.
Seja pelo impacto das suas missões humanitárias, pela relevância das suas decisões políticas ou pela amplitude das suas agendas, de direitos humanos ao desenvolvimento sustentável, a ONU tornou-se um dos destinos mais desejados para quem busca uma carreira internacional.
No entanto, entrar na ONU envolve caminhos específicos, múltiplas portas de entrada, diferentes tipos de contratos e um processo seletivo altamente técnico.
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Diante disso, e considerando o interesse crescente dos internacionalistas brasileiros, decidimos elaborar o guia definitivo para trabalhar na ONU: claro, completo, atualizado e orientado para quem deseja transformar essa ambição em um plano de carreira realista e possível.
Este guia reúne tudo o que você precisa saber, de estrutura institucional, perfis profissionais, requisitos, programas de acesso, plataformas oficiais, estratégias de candidatura a tendências de contratação, para dar o primeiro passo com segurança rumo a uma carreira nas Nações Unidas.
1. Por que tantos profissionais querem trabalhar na ONU?
Trabalhar na Organização das Nações Unidas é um dos objetivos mais comuns entre estudantes e profissionais de Relações Internacionais, e não apenas por prestígio. A ONU representa, para muitos, a oportunidade de construir uma carreira com impacto, trabalhando em temas que moldam o futuro: paz e segurança, direitos humanos, desenvolvimento sustentável, governança digital, questões humanitárias, migrações, mudanças climáticas, saúde global e mais.
Ao contrário do que muitos imaginam, uma carreira na ONU não é uma trajetória linear, e tampouco existe um atalho garantido. Mas existe um caminho possível — estratégico, realista e alinhado à formação de profissionais brasileiros — que envolve entender como a organização funciona, quais competências ela busca, e quais são os principais pontos de entrada no sistema ONU.
Para quem deseja atuar internacionalmente, o sistema ONU oferece:
- Ambiente multicultural e equipes altamente qualificadas
- Experiências internacionais em contextos complexos
- Temas de alto impacto, da proteção de civis ao desenvolvimento de políticas públicas internacionais
- Estabilidade e progressão profissional (especialmente para quem torna-se staff)
- Rede global de contatos, fundamental ao longo da carreira
Além disso, o momento atual é estratégico: a ONU vive um período de renovação institucional, expansão de áreas como tecnologia, governança digital, mudanças climáticas e resposta humanitária — abrindo novas trilhas profissionais para especialistas de diversas áreas.
Este guia foi desenvolvido para ajudar profissionais brasileiros a compreender como iniciar — e como planejar — uma carreira na ONU, quais são os requisitos, como funciona o processo seletivo e que caminhos são mais realistas dependendo do estágio profissional.
2. O que é a ONU?
A Organização das Nações Unidas é uma instituição internacional criada em 1945 com três mandatos fundamentais: manutenção da paz e segurança internacionais, promoção e proteção dos direitos humanos, e desenvolvimento econômico e social. Com 193 Estados-membros, a ONU opera como um sistema complexo formado por órgãos principais, agências especializadas, fundos e programas, cada um com estruturas próprias de contratação e perfis profissionais distintos.
Para quem deseja trabalhar na ONU, compreender essa estrutura é essencial — porque as oportunidades de carreira não se concentram apenas na sede em Nova York, mas se distribuem por:
- Mais de 30 agências especializadas
- Escritórios regionais, inclusive na América Latina
- Missões de paz
- Programas humanitários e de desenvolvimento
- Escritórios de campo em dezenas de países
2.1. Missão e Propósito (e por que isso importa para sua candidatura)
O ethos profissional da ONU é moldado por valores como:
- Multilateralismo e cooperação
- Universalidade dos direitos humanos
- Prevenção de conflitos
- Ajuda humanitária imparcial
- Desenvolvimento sustentável
O candidato que compreende esses princípios e sabe demonstrá-los em sua trajetória — em experiências acadêmicas, voluntariado, estágios, pesquisa ou atuação profissional — já larga na frente no processo seletivo.
2.2. Breve histórico — por que a ONU importa para quem trabalha com RI
A ONU surgiu após a Segunda Guerra Mundial para evitar novos conflitos e criar um sistema de governança multilateral mais robusto que a antiga Liga das Nações. Diferente de sua predecessora, a ONU foi concebida com poderes efetivos, como:
- o Conselho de Segurança (paz e segurança),
- a Corte Internacional de Justiça (direito internacional),
- e uma Secretaria estruturada para implementar decisões.
Para profissionais de carreira, isso significa que a ONU:
- Emprega especialistas em política internacional, desenvolvimento, direitos humanos, tecnologia, meio ambiente, economia, saúde, migrações e mais.
- Oferece múltiplos caminhos de atuação, desde análise política e diplomática até logística humanitária, gestão de projetos, comunicação internacional e avaliação de políticas públicas.
2.3. O Sistema ONU como ecossistema de carreiras
A ONU não é uma organização única — é um conjunto de órgãos, programas e agências que formam um dos maiores ambientes de trabalho do mundo em assuntos internacionais. Entre as mais conhecidas:
- UNICEF (infância)
- UNESCO (educação e cultura)
- UNHCR/ACNUR (refugiados)
- UNDP/PNUD (desenvolvimento)
- UN Women (igualdade de gênero)
- WHO/OMS (saúde)
- WFP/PMA (alimentação e ajuda humanitária)
- UNODC (crime e justiça)
- IOM/OIM (migrações)
- OCHA (coordenação humanitária)
Cada uma dessas instituições possui seus próprios processos seletivos, níveis de carreira, competências buscadas e áreas de atuação.
Para o profissional, isso significa que:
- há oportunidades para diferentes formações, muito além de Relações Internacionais;
- áreas altamente técnicas são muito valorizadas, como economia, estatística, direito, saúde, logística, engenharia, tecnologia e comunicação;
- o caminho de entrada varia conforme o perfil e o momento da carreira.
3. Como funciona o Sistema ONU: órgãos, instâncias e possibilidades de carreira
Para construir uma carreira na ONU, é essencial compreender sua estrutura institucional. O sistema das Nações Unidas é composto por órgãos principais, responsáveis pela governança política e jurídica, e por uma ampla rede de agências, fundos e programas, onde a maior parte das oportunidades de trabalho realmente acontece.
A seguir, apresentamos uma visão clara, prática e orientada ao mercado profissional sobre onde brasileiros podem atuar, que carreiras existem em cada instância e quais competências costumam ser buscadas.
3.1. Órgãos Principais da ONU
Os seis órgãos principais da ONU são definidos pela Carta das Nações Unidas. Embora muitos cargos de alto nível estejam concentrados neles, há também oportunidades de carreira em análise política, direito internacional, governança, administração e operações.
Assembleia Geral (UNGA)
A Assembleia Geral é o órgão deliberativo onde os 193 Estados-membros debatem temas globais.
Carreiras possíveis:
- Political Affairs Officer
- Human Rights Officer
- Sustainable Development Officer
- Especialistas em cooperação internacional
- Assistentes de pesquisa, documentação e conferências
Perfis valorizados:
- Análise política
- Habilidades de negociação multilateral
- Escrita diplomática e capacidade de síntese
Profissionais da Assembleia Geral frequentemente trabalham com agenda política, resolução de conflitos, desenvolvimento econômico e temas transversais como clima, gênero e governança digital.
Conselho de Segurança (UNSC)
O órgão mais poderoso da ONU, responsável pela paz e segurança internacionais.
Carreiras possíveis:
- Political Affairs Officers (monitoramento de crises, análise de conflitos)
- Especialistas em mediação, prevenção de conflitos e construção da paz
- Profissionais de missões de paz (Peacekeeping)
- Analistas regionais (África, Oriente Médio, Ásia)
Perfis valorizados:
- Experiência em contextos de conflito
- Conhecimento de operações humanitárias ou de peacekeeping
- Competências de análise geopolítica
Muitos profissionais iniciam suas carreiras em missões de campo ou órgãos regionais antes de chegar à sede.
Conselho Econômico e Social (ECOSOC)
Responsável por temas de desenvolvimento, economia, direitos humanos e políticas sociais.
Carreiras possíveis:
- Development Officers
- Especialistas em políticas públicas
- Economistas internacionais
- Especialistas em saúde global, educação, gênero e inclusão social
- Profissionais de monitoramento e avaliação (M&E)
Perfis valorizados:
- Conhecimento de desenvolvimento sustentável
- Gestão de projetos (Project Management)
- Uso de indicadores, estatísticas e metodologias como RBM/LogFrame
Profissionais do ECOSOC frequentemente trabalham de forma integrada com as agências especializadas.
Secretaria-Geral
É o núcleo administrativo da ONU e emprega o maior número de profissionais permanentes.
Carreiras possíveis:
- Gestão de projetos e programas
- Recursos humanos, finanças, logística e procurement
- Tecnologia, governança digital e dados
- Comunicação estratégica e advocacy
- Direitos humanos e assuntos políticos
Perfis valorizados:
- Habilidades administrativas e operacionais
- Experiência prévia em organizações complexas
- Capacidade de trabalhar sob pressão e em equipes multiculturais
É também onde se concentram muitas oportunidades de contratação por consultorias (SSA/IC).
Corte Internacional de Justiça (CIJ)
Sediada em Haia, é o principal órgão judicial das Nações Unidas.
Carreiras possíveis:
- Juristas e especialistas em direito internacional público
- Assistentes jurídicos (Law Clerks)
- Especialistas em litígio interestatal
- Pesquisadores jurídicos
Perfis valorizados:
- Formação em direito internacional
- Experiência acadêmica ou prática em direito internacional público
- Inglês ou francês jurídico
Conselho de Tutela
Hoje sem funções ativas, mas mantido por razões históricas. Não oferece carreiras relevantes.
3.2. O Sistema ONU: Agências, Fundos e Programas (onde estão a maioria das vagas)
Mais de 80% das oportunidades de trabalho se encontram nas agências, fundos e programas. Cada uma tem sua própria identidade, cultura organizacional, processos seletivos e áreas especializadas — conhecer essas diferenças ajuda o candidato a escolher onde sua trajetória faz mais sentido.
A seguir, uma visão prática sobre as principais instituições e os profissionais que elas mais buscam.
UNDP / PNUD — Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Áreas de atuação:
- Governança democrática
- Redução da pobreza
- Mudanças climáticas e resiliência
- Desenvolvimento sustentável
- Transformação digital pública
Quem costuma ser contratado:
- Gestores de projetos
- Economistas
- Especialistas em políticas públicas
- Analistas de dados
- Profissionais de inovação, tecnologia e governo digital
O PNUD é, historicamente, uma das portas de entrada mais acessíveis para brasileiros.
UNICEF — Fundo das Nações Unidas para a Infância
Áreas:
- Proteção da criança
- Educação
- Saúde e nutrição
- Assistência humanitária
Perfis demandados:
- Profissionais de políticas sociais
- Especialistas em saúde pública
- Assistentes sociais e psicólogos
- Comunicadores
- Gestores de projetos
UN Women
Áreas:
- Igualdade de gênero
- Combate à violência contra mulheres
- Autonomia econômica e política
Perfis valorizados:
- Especialistas em gênero
- Analistas de políticas públicas
- Profissionais de direitos humanos
UNHCR / ACNUR — Alto Comissariado para Refugiados
Áreas:
- Proteção internacional
- Assistência humanitária
- Soluções duráveis para deslocamentos forçados
Perfis mais procurados:
- Profissionais com experiência em campo
- Direito internacional dos refugiados
- Logística humanitária
- Assistência social
WFP / PMA — Programa Mundial de Alimentos
Áreas:
- Segurança alimentar
- Operações humanitárias
- Logística e cadeias de suprimentos
Perfis valorizados:
- Logística
- Engenharia
- Administração
- Gestão de crises
WHO / OMS — Organização Mundial da Saúde
Áreas:
- Saúde pública
- Epidemiologia
- Sistemas de saúde
Perfis contratados:
- Médicos
- Enfermeiros
- Epidemiologistas
- Especialistas em vigilância e resposta a emergências
UNESCO — Educação, Ciência e Cultura
Áreas:
- Educação internacional
- Patrimônio cultural
- Liberdade de expressão
- Cultura e desenvolvimento
Perfis buscados:
- Cientistas sociais
- Especialistas em educação
- Comunicadores e gestores culturais
UNODC — Drogas e Crime
Áreas:
- Crime organizado
- Tráfico de pessoas
- Lavagem de dinheiro
- Justiça criminal
Perfis valorizados:
- Direito
- Criminologia
- Políticas públicas
- Segurança e justiça
IOM / OIM — Organização Internacional para Migrações
Áreas:
- Fluxos migratórios
- Apoio a governos
- Emergências humanitárias
Perfis contratados:
- Antropologia
- Sociologia
- RI
- Políticas migratórias
OCHA — Coordenação de Assuntos Humanitários
Áreas:
- Resposta humanitária
- Coordenação entre agências
- Gestão de crises complexas
Perfis valorizados:
- Humanitarian officers
- Profissionais de emergência
- Analistas políticos para crises
O que tudo isso significa para sua carreira?
- Há múltiplos caminhos: político, jurídico, econômico, social, humanitário, técnico.
- O candidato deve identificar em qual parte da ONU seu perfil realmente se encaixa.
- Profissionais brasileiros encontram oportunidades especialmente em:
- direitos humanos
- desenvolvimento
- gênero
- políticas sociais
- governança democrática
- resposta humanitária
- educação
- comunicação internacional
Essa clareza é o ponto de partida para estruturar um plano de carreira realista dentro do sistema ONU.
4. Tipos de Carreira na ONU (explicado de forma clara e prática)
A ONU não funciona como empresas tradicionais. Existem múltiplos tipos de contratos, programas de entrada, níveis e trajetórias possíveis. Entender essas modalidades é essencial para construir um plano de carreira realista — principalmente para profissionais brasileiros, que muitas vezes começam em programas temporários antes de conquistarem posições permanentes (staff).
A seguir, um guia completo das principais portas de entrada.
4.1. Internships (Estágios na ONU)
Os estágios são um dos caminhos mais conhecidos — e, para muitos, o primeiro contato com o sistema ONU. Eles não garantem contratação futura, mas contam pontos reais no currículo e podem levar à inclusão em rosters.
Requisitos gerais
- Estar cursando graduação ou ter concluído há até 1 ano
- Inglês avançado (francês é um diferencial)
- Interesse nas áreas temáticas da agência contratante
Duração
2 a 6 meses, podendo ser presencial ou remoto.
Importante saber:
- Algumas agências oferecem bolsas (UNICEF, UNESCO, OMS), outras não.
- Interns não são considerados funcionários — mas estão expostos ao ambiente profissional da ONU, o que abre portas futuras.
Para quem é indicado?
Estudantes com forte base acadêmica e interesse em construir trajetórias internacionais desde cedo.
4.2. UN Volunteers (UNV) — A porta mais realista para muitos brasileiros
O programa de voluntariado das Nações Unidas é, atualmente, uma das rotas mais sólidas e diretas para entrar na ONU.
Apesar do nome, UNV não significa trabalho não remunerado. Voluntários recebem um modest living allowance, seguro saúde e outros auxílios.
Requisitos gerais
- A partir de 22 anos para UNV Júnior
- 25+ anos para UNV Internacional
- Experiência profissional prévia (mínima varia por vaga)
Duração:
3 a 12 meses, renováveis.
Por que é estratégico?
- Muitos profissionais se tornam consultores ou staff após a experiência UNV.
- É uma forma de ganhar experiência humanitária ou de desenvolvimento com credibilidade internacional.
Perfis mais recrutados:
- Projetos, comunicação, direitos humanos, migrações, logística, monitoramento e avaliação, proteção.
4.3. JPO (Junior Professional Officer)
O JPO é um programa altamente prestigiado e uma das melhores formas de entrar na carreira de staff.
Mas há um detalhe importante:
O programa depende de países doadores. O Brasil não é doador.
Isso significa que brasileiros só conseguem se inscrever quando países como Holanda, Alemanha, Japão, Coreia do Sul ou Noruega abrem vagas para “países em desenvolvimento” — algo que ocorre ocasionalmente.
Requisitos gerais
- Mestrado
- 1–3 anos de experiência profissional
- Inglês fluente
Vantagens
- Contrato P1 ou P2 pelo sistema ONU
- Grande chance de efetivação
- Mentoria e formação continuada
Para quem é indicado?
Jovens profissionais com excelente formação, preferencialmente já com experiência internacional.
4.4. YPP (Young Professionals Programme)
O YPP é o processo mais competitivo para ingresso na Secretaria-Geral da ONU — e também o mais cobiçado.
Mas atenção:
➡️ Somente nacionais de países participantes podem se inscrever.
A cada ano, é publicado o YPP Country List. O Brasil nem sempre está incluído.
Requisitos gerais
- Menos de 32 anos
- Diploma universitário em uma das áreas do exame
- Inglês ou francês fluente
- Nacionalidade de país participante
Processo seletivo:
- Aplicação no Inspira
- Screening
- Exame escrito (extremamente competitivo)
- Entrevista competency-based
Por que é tão disputado?
A aprovação no YPP permite contratação como P1/P2, com plano de carreira estruturado.
4.5. Staff Positions — P1 a P5 (carreira de funcionário internacional)
As posições de staff são os contratos mais desejados, pois oferecem estabilidade, progressão e benefícios completos.
Níveis e requisitos típicos:
- P1: raríssimo, geralmente sem experiência
- P2: mestrado + 2 anos de experiência
- P3: mestrado + 5 anos
- P4: mestrado + 7 anos
- P5: mestrado + 10 anos (gestão e liderança)
Profissionais brasileiros costumam ser contratados, na prática, a partir do P2/P3, após passar por estágios, UNV, consultorias ou experiência relevante em governo, ONGs, think tanks, organismos internacionais ou missões de campo.
Perfis mais recrutados:
- Políticas públicas e desenvolvimento
- Direitos humanos
- Operações humanitárias
- Monitoramento e avaliação
- Tecnologia, dados e governança digital
- Economia e finanças
- Comunicação estratégica
4.6. Consultorias (SSA, IC) — o caminho mais rápido para quem já tem experiência
As consultorias são uma porta de entrada extremamente comum — especialmente na América Latina.
Tipos de contrato
- IC (Individual Contractor)
- SSA (Special Service Agreement)
Por que são importantes?
- Processo seletivo menos burocrático
- Permite construir experiência concreta no sistema ONU
- Possibilita entrar em rosters e ser convidado novamente
Perfis valorizados:
- Profissionais com experiência técnica clara
- Especialistas em políticas públicas
- Comunicadores e designers
- Analistas de dados
- Gestores de projetos
Observação prática:
Muitos brasileiros iniciam por consultoria em agências como PNUD, ACNUR, UN Women ou UNESCO e, depois, migram para posições mais estáveis.
Síntese estratégica da Seção 4
- Estágios ajudam a entrar no radar → válidos para quem está iniciando.
- UNV é a porta mais realista para profissionais brasileiros.
- Consultorias são o caminho rápido para perfis mais experientes.
- JPO é excelente, mas depende de vagas para países em desenvolvimento.
- YPP é competitivo e depende da nacionalidade elegível.
- Staff é o topo da carreira — alcançado após experiência comprovada no sistema.
5. Requisitos para Trabalhar na ONU (o que realmente importa)
Um dos maiores equívocos entre candidatos é acreditar que trabalhar na ONU depende exclusivamente de “sorte” ou de networking. A realidade é mais objetiva: a ONU contrata com base em critérios técnicos, competências verificáveis e aderência clara ao perfil do cargo.
A seguir, apresentamos os requisitos mais importantes para quem deseja construir uma carreira no sistema ONU.
5.1. Formação Acadêmica
A ONU recruta profissionais de diversas áreas — não apenas Relações Internacionais.
Mas há um padrão claro:
Nível mínimo exigido para a maioria das vagas:
- Mestrado (MA/MSc/MPhil) em área relevante
(desenvolvimento, relações internacionais, políticas públicas, direito, economia, saúde, engenharia, estatística, comunicação, gênero, entre outras).
Algumas posições aceitam bacharelado, mas normalmente exigem mais anos de experiência.
Áreas valorizadas além de RI:
- Direito internacional
- Economia e finanças
- Saúde pública / epidemiologia
- Engenharia / logística / supply chain
- Estatística e ciência de dados
- Tecnologia, IA, transformação digital
- Comunicação estratégica / jornalismo
- Ciências sociais aplicadas
- Psicologia e assistência social
Profissionais especialistas têm mais chances do que perfis generalistas.
Essa é uma tendência clara no sistema ONU — e deve orientar o planejamento de carreira.
5.2. Experiência Profissional
Os requisitos variam por nível, mas seguem um padrão:
- 2 anos → P2
- 5 anos → P3
- 7 anos → P4
- 10 anos → P5 (gestão)
Importante:
A ONU aceita experiência em governos, ONGs, projetos internacionais, consultorias, think tanks, institutos acadêmicos, setor privado e atuação em campo.
Experiências que contam muito:
- Projetos financiados por organismos internacionais
- Trabalho voluntário estruturado
- Publicações, pesquisa aplicada, análises de política
- Experiência humanitária ou social em campo
- Projetos com indicadores, monitoramento e avaliação
- Elaboração de relatórios, pareceres e documentos técnicos
Experiências que contam menos:
- Atividades administrativas simples sem componente técnico
- Trabalho não relacionado à área do cargo
- Atuação acadêmica sem relação com impacto aplicado
5.3. Línguas (um dos critérios mais objetivos)
A ONU possui 6 idiomas oficiais (inglês, francês, espanhol, árabe, russo e chinês), mas as duas línguas de trabalho mais usadas são:
- Inglês (obrigatório para praticamente todas as vagas)
- Francês (fortemente desejável, especialmente para operações na África, peacekeeping e áreas humanitárias)
Para brasileiros:
- Inglês avançado fluente é obrigatório.
- Francês avançado aumenta significativamente as chances.
- Espanhol é útil para vagas na América Latina (UNICEF, PNUD, OIM, ONU Mulheres).
5.4. Competências Comportamentais (UN Competency Framework)
A ONU usa um sistema oficial de competências para selecionar candidatos.
Entre as mais importantes:
Competências essenciais
- Comunicação
- Trabalho em equipe
- Planejamento e organização
- Responsabilidade
- Criatividade e solução de problemas
- Orientação para resultados
Competências gerenciais (para P4/P5)
- Liderança
- Gestão de desempenho
- Desenvolvimento de equipes
- Visão estratégica
Essas competências são avaliadas principalmente em entrevistas Competency-Based (CBI), que analisam comportamentos reais do candidato, não apenas sua formação.
5.5. Conhecimentos Técnicos
Dependem da área, mas alguns são amplamente valorizados:
- Gestão de projetos (PMI, Prince2, Agile, RBM, LogFrame)
- Avaliação e monitoramento (M&E)
- Análise de risco e análise conjuntural
- Estatística aplicada e uso de dados
- Governança digital e transformação pública
- Direitos humanos e normas internacionais
- Comunicação institucional e advocacy
- Redação técnica de relatórios e documentos
5.6. Soft Skills para o ambiente internacional
Algumas competências não aparecem explicitamente nas vagas, mas são decisivas:
- Adaptabilidade cultural
- Resiliência em ambientes de pressão
- Relações interpessoais
- Capacidade de síntese (relatórios claros e curtos)
- Flexibilidade para deslocamentos
- Autonomia e proatividade
Muitos processos seletivos buscam, acima de tudo, maturidade internacional — capacidade de trabalhar com pessoas de diferentes países, formações e culturas.
6. Como é o Processo Seletivo da ONU (do início ao fim)
Muitos candidatos se frustram porque o processo da ONU é diferente de tudo que já viram: lento, técnico, impessoal e extremamente criterioso. Entender cada etapa é fundamental para não se perder — e para aumentar suas chances.
A seguir, o passo a passo completo.
6.1. Onde tudo começa: encontrando a vaga
O primeiro passo para trabalhar na ONU é saber onde procurar as oportunidades. Diferente de empresas tradicionais, a ONU centraliza suas vagas em plataformas oficiais. Buscar “vagas ONU” no Google leva, muitas vezes, a sites desatualizados ou não confiáveis.
A seguir estão as fontes oficiais que você deve consultar regularmente.
UN Careers — Secretaria-Geral da ONU
Plataforma principal para vagas da Secretaria-Geral, incluindo posições P, D, G, YPP e Internships.
Sites oficiais de carreiras das principais agências da ONU
Estas são as agências onde a maioria dos brasileiros encontra oportunidades.
UNDP / PNUD – Desenvolvimento
https://www.undp.org/careers
UNICEF – Infância
https://jobs.unicef.org
UNHCR / ACNUR – Refugiados
https://www.unhcr.org/careers
UN Women – Igualdade de Gênero
https://jobs.unwomen.org
WHO / OMS – Saúde Global
https://www.who.int/careers
WFP / PMA – Programa Mundial de Alimentos
https://www.wfp.org/careers
UNESCO – Educação, Ciência e Cultura
https://careers.unesco.org
IOM / OIM – Migrações
https://www.iom.int/careers
UNODC – Drogas e Crime
https://www.unodc.org/unodc/en/careers.html
OCHA – Assuntos Humanitários
https://www.unocha.org/vacancies
UN Volunteers (UNV)
Uma das portas de entrada mais acessíveis para brasileiros, com vagas internacionais e nacionais.
Consultant Rosters e Talent Pools
Muitas agências utilizam rosters para contratar consultores rapidamente.
UNDP Talent Pools
https://jobs.undp.org/cj_cftype.cfm
UNHCR Roster
https://www.unhcr.org/careers (seção “Talent Pools”)
UN Women Talent Pools
https://jobs.unwomen.org
UNICEF Talent Pools
https://jobs.unicef.org (busque por “Talent Group”)
Plataformas complementares (não oficiais, mas úteis)
Esses sites não são da ONU, mas reúnem oportunidades de diversas agências:
ReliefWeb Jobs (humanitário e desenvolvimento)
https://reliefweb.int/jobs
ImpactPool
https://www.impactpool.org
Devex Jobs
https://www.devex.com/jobs
Atenção: apesar de úteis, essas plataformas devem ser usadas apenas para referência.
A candidatura deve sempre ser feita nos sites oficiais da ONU.
Erro comum a evitar
Procurar “vagas ONU” no Google.
Os resultados costumam incluir sites desatualizados, incompletos ou não oficiais.
O correto é sempre usar as plataformas oficiais acima.
6.2. A aplicação: Personal History Profile (PHP)
A candidatura não exige CV tradicional.
O principal documento é o PHP, uma espécie de currículo estruturado online.
O que ele avalia:
- Experiência profissional
- Educação
- Publicações
- Idiomas
- Competências
- Contribuições relevantes
O PHP deve ser adaptado a cada vaga.
Copiar e colar informações genéricas reduz drasticamente as chances de aprovação.
6.3. Screening / Shortlisting (fase das eliminações rápidas)
Nesta etapa, a ONU verifica:
- Se você preenche TODOS os requisitos mínimos
- Se suas experiências são relevantes
- Se as palavras-chave estão alinhadas ao Terms of Reference
É aqui que a maior parte dos candidatos é eliminada.
A ONU não “flexibiliza” requisitos.
Se uma vaga pede 5 anos de experiência, não adianta ter 4 anos e meio.
6.4. Written Test (prova escrita)
Se você avançar, fará um teste escrito que pode envolver:
- Relatórios
- Notas técnicas
- Briefings políticos
- Análises de caso
- Propostas de projeto
- Questões sobre normas internacionais
Essa etapa mede o que mais importa na ONU:
capacidade de pensar e escrever sob pressão, com clareza e base técnica.
6.5. Competency-Based Interview (CBI)
Uma entrevista 100% baseada em exemplos reais.
Perguntas típicas:
- “Conte um momento em que você lidou com um conflito em equipe.”
- “Descreva uma situação em que teve que trabalhar sob pressão.”
- “Fale sobre um projeto em que você precisou demonstrar liderança.”
A técnica usada é a STAR Method: Situação, Tarefa, Ação, Resultado.
Não existe improviso nessa etapa — é treino, autoconhecimento e preparação.
6.6. Verificações finais e contratação
Inclui:
- Verificação de referências
- Checagem de histórico profissional
- Possível inclusão em rosters
- Contratação direta ou contato posterior para outras vagas
Observação importante:
O fato de não ser selecionado imediatamente não significa que o candidato está descartado.
A ONU frequentemente utiliza rosters para contratações futuras.
Não é rápido. Não é simples.
Mas é absolutamente possível para profissionais qualificados e estrategicamente preparados.
7. Como montar uma candidatura forte
Um dos maiores diferenciais entre candidatos aprovados e eliminados na ONU não está no diploma, mas na estratégia de candidatura. O processo é competitivo e extremamente técnico — por isso seu perfil precisa ser apresentado de forma clara, consistente e alinhada à vaga.
A seguir, um conjunto de orientações práticas que aumentam significativamente suas chances.
7.1. Como montar um currículo estilo ONU (PHP forte e competitivo)
O Personal History Profile substitui o CV tradicional. Para ser competitivo:
→ Estruture sua experiência com foco em resultados
Use verbos fortes: coordenou, analisou, implementou, avaliou, produziu, facilitou.
Mostre impacto mensurável:
- “Aumentei X% a participação…”
- “Implementei projeto com Y beneficiários…”
- “Desenvolvi relatório usado por Z atores…”.
→ Adapte o PHP a cada vaga
A maior parte dos candidatos é eliminada porque envia candidaturas genéricas.
A ONU busca alinhamento direto entre experiência e Terms of Reference (TOR).
→ Use palavras-chave da vaga
A triagem inicial compara automaticamente sua descrição às palavras do anúncio.
7.2. Construindo um portfólio profissional internacional
A ONU valoriza mais o que você faz do que títulos formais.
Inclua no seu portfólio:
- Publicações, artigos e relatórios
- Briefings, policy papers e análises conjunturais
- Projetos implementados (governo, ONGs, empresas)
- Indicadores e resultados (RBM, LogFrame, M&E)
- Experiência de campo ou assistência humanitária
Ter produções técnicas aumenta drasticamente sua credibilidade profissional.
7.3. Estratégia de aplicação: menos vagas, mais precisão
Um erro comum é aplicar para dezenas de vagas sem alinhamento.
A orientação é:
- Escolher áreas de atuação específicas (ex.: direitos humanos, desenvolvimento, migrações, logística humanitária).
- Selecionar 3–5 agências principais para focar.
- Aplicar somente a vagas onde você realmente preenche os requisitos.
Isso aumenta suas chances e reduz frustrações.
7.4. Como fazer networking profissional
Networking eficiente para a ONU não é pedir emprego — é construir reputação.
Boas práticas:
- Conectar-se com profissionais ONU no LinkedIn
- Participar de webinars, congressos e eventos temáticos
- Publicar análises e conteúdos na área de especialização
- Enviar mensagens curtas, profissionais e objetivas
O que NÃO fazer:
- Mandar CV por DM
- Pedir “ajuda para entrar”
- Enviar mensagens genéricas
Networking é sobre conexão qualificada, não sobre pedidos.
7.5. Preparação para entrevistas (CBI)
A Competency-Based Interview exige prática.
Como se preparar:
- Tenha exemplos reais para cada competência (STAR Method)
- Exercite respostas em voz alta
- Mostre capacidade analítica e maturidade emocional
- Concentre-se em processo e resultado
A entrevista CBI é menos sobre “quem você é” e mais sobre “como você age em situações complexas”.
8. O papel do Brasil no Sistema ONU (e por que isso importa para sua carreira)
O Brasil possui uma trajetória histórica importante nas Nações Unidas, o que facilita e legitima a presença de brasileiros em diversas agências.
8.1. Tradição diplomática e protagonismo histórico
- País fundador da ONU
- Responsável pelo discurso de abertura da Assembleia Geral desde 1947
- Participação em missões de paz, especialmente no Haiti (MINUSTAH)
- Engajamento em temas como desenvolvimento, agricultura, fome, direitos humanos e meio ambiente
Essa reputação reforça a credibilidade do profissional brasileiro no sistema ONU.
8.2. Áreas onde brasileiros se destacam
- Desenvolvimento socioeconômico (PNUD)
- Segurança alimentar e combate à fome (FAO, WFP)
- Direitos humanos (OHCHR, ACNUR, ONU Mulheres)
- Educação e cultura (UNESCO)
- Políticas sociais, saúde e proteção
- Migrações e refúgio (OIM, ACNUR)
- Operações humanitárias e logística
8.3. Vantagens comparativas do profissional brasileiro
- Forte formação em ciências sociais aplicadas
- Experiência com desigualdade, políticas sociais e desenvolvimento
- Capacidade de operar em ambientes complexos e multiculturais
- Reconhecimento internacional da diplomacia brasileira
- Fluência em múltiplos idiomas (português, inglês, espanhol)
Esses elementos fazem com que brasileiros sejam muito bem avaliados em processos seletivos.
Conclusão: construir uma carreira internacional possível
Trabalhar na ONU não é um sonho distante ou uma fantasia restrita a poucas pessoas. Trata-se de um projeto viável, desde que planejado com estratégia, qualificação e propósito.
A carreira internacional não é linear. Ela se constrói com:
- Experiências progressivas
- Formação sólida
- Idiomas
- Portfólio técnico
- Persistência
A ONU busca profissionais capazes de gerar impacto — e que tenham clareza sobre sua trajetória e contribuição.
Se você deseja atuar em direitos humanos, desenvolvimento, diplomacia, operação humanitária ou políticas globais, este é o momento ideal para planejar seu caminho com consciência e ambição.
Formação complementar: como a ESRI pode apoiar sua trajetória internacional
De forma natural e sem caráter publicitário, a ESRI oferece formações que apoiam exatamente as competências exigidas pela ONU.
Entre elas:
- Curso de Direitos Humanos
- Formação em Política Internacional
- Curso de Geopolítica: Teoria, Espaço e Poder
- Análise de Conjuntura e Risco Político
- Gestão de Projetos Internacionais
- Escola de Verão de Relações Internacionais
A trajetória internacional pode ser longa, mas é totalmente possível quando orientada por método, qualificação e estratégia.


