Diplomacia Cultural: O que é, Importância e Como é Exercida

Diplomacia Cultural: O que é, Importância e Como é Exercida

A cultura sempre exerceu um papel discreto, porém profundo, nas relações entre os povos.

Muito antes de se falar em soft power, impérios, reinos e nações compreenderam que a influência mais duradoura não nasce das armas, mas das ideias, da capacidade de inspirar, ensinar, seduzir e emocionar.

A diplomacia cultural é a institucionalização dessa intuição antiga: o reconhecimento de que a arte, a língua, a ciência e o conhecimento são também formas de poder.

Ela se situa na interseção entre política e sensibilidade, entre estratégia e imaginação, transformando a cultura em uma linguagem de convivência.

Na prática, a diplomacia cultural opera como um sistema simbólico de poder, em que Estados e sociedades utilizam expressões culturais para moldar percepções, criar vínculos e construir legitimidade no cenário internacional.

É uma política da imagem e da palavra, tão estratégica quanto a econômica e a militar, mas fundada na força da atração e da confiança.

O conceito se tornou central na virada do século XXI, impulsionado pelas reflexões de Joseph Nye, que introduziu o termo soft power para designar a capacidade de um país de persuadir sem recorrer à coerção.

Entretanto, a ideia de projetar influência por meio da cultura é muito mais antiga, de Richelieu e Talleyrand, que usavam o prestígio da língua francesa como ferramenta diplomática, aos modernos institutos culturais que disseminam valores e identidades mundo afora.

Mais recentemente, a diplomacia cultural se expandiu para além dos Estados.
Universidades, museus, ONGs, empresas e até influenciadores digitais participam de um ecossistema global de trocas culturais.

O poder simbólico se tornou distribuído, e a cultura, um campo de negociação permanente entre visibilidade, identidade e diálogo.

Compreender a diplomacia cultural hoje exige, portanto, reconhecer seu duplo papel: como instrumento de poder capaz de projetar influência e prestígio,
e como linguagem de cooperação capaz de promover empatia e entendimento mútuo.

Neste artigo, exploramos sua trajetória, suas práticas e seus desafios contemporâneos.

Na primeira parte, apresentamos os fundamentos e a evolução conceitual da diplomacia cultural.

Na segunda, analisamos as principais estratégias e instrumentos utilizados por países e instituições ao redor do mundo.

Por fim, discutimos os dilemas éticos e políticos desse campo em expansão, e refletimos sobre seu papel futuro como ponte de diálogo em um mundo fragmentado.

Mais do que uma ferramenta de política externa, a diplomacia cultural é hoje uma forma de pensar o mundo, um convite à convivência através da arte, da palavra e da imaginação coletiva das nações.

1. Fundamentos e evolução da diplomacia cultural

1.1. Cultura e poder nas relações internacionais

A cultura sempre ocupou um espaço silencioso, mas decisivo, na política internacional. Antes mesmo de se consolidar como conceito acadêmico, ela já atuava como instrumento de aproximação, dominação ou prestígio, moldando percepções, hierarquias e alianças.

Afinal, toda política externa, em algum grau, também é uma política de imagem.

O termo diplomacia cultural designa hoje o uso estratégico da cultura como instrumento de política internacional, ou seja é uma prática que se estende da difusão linguística e artística à cooperação educacional, científica e midiática. O objetivo é simples e profundo: influenciar o outro sem recorrer à força.

É nesse ponto que surge o conceito de soft power, formulado por Joseph Nye nos anos 1990, ao propor que o poder de um país não se mede apenas por suas capacidades militares ou econômicas, mas também pela sua capacidade de atrair, inspirar e convencer.

Em contraste com o hard power (baseado na coerção), o soft power atua por meio da cultura, dos valores e das ideias. Ele opera na esfera simbólica da influência, onde as emoções e percepções moldam as decisões políticas tanto quanto os interesses materiais.

Essa concepção encontra eco em pensadores anteriores, como E. H. Carr, que, já em The Twenty Years’ Crisis (1939), identificava o “poder sobre a opinião” como uma das três dimensões fundamentais do poder internacional. Para Carr, dominar a narrativa é tão estratégico quanto controlar os recursos. A diplomacia cultural, nesse sentido, é a diplomacia da narrativa, a arte de apresentar o próprio país como legítimo, desejável e civilizado.

No século XXI, essa forma de poder simbólico torna-se ainda mais relevante em um cenário de multipolaridade e competição de identidades. Estados, empresas, universidades e artistas disputam visibilidade e reconhecimento. A cultura, portanto, deixa de ser um adorno da política externa e passa a constituir seu próprio campo de força.

1.2. Raízes históricas da diplomacia cultural

A diplomacia cultural não nasceu com a globalização, ela é tão antiga quanto o próprio intercâmbio entre civilizações. Desde as missões religiosas e artísticas do período clássico até as embaixadas culturais do século XIX, as trocas simbólicas sempre acompanharam os fluxos de poder.

No Renascimento, os embaixadores italianos já entendiam que as obras de arte e o patrocínio cultural podiam legitimar a autoridade de uma cidade-Estado. No século XVII, os reis absolutistas franceses transformaram a língua e as artes em instrumentos de prestígio, lançando as bases do que hoje chamamos de ação cultural exterior.

Mas é no século XIX que essa prática se institucionaliza, quando surgem as primeiras organizações dedicadas à difusão cultural como instrumento de influência.
A Alliance Française, fundada em 1883, foi pioneira ao associar o ensino da língua à promoção de valores e estilos de vida. Décadas mais tarde, o British Council (1934) e a United States Information Agency (USIA) (1953) consolidariam esse modelo, transformando cultura e educação em pilares da política externa moderna.

Durante a Guerra Fria, a diplomacia cultural atingiu um novo patamar. A disputa entre Estados Unidos e União Soviética não se limitava ao arsenal nuclear ou às esferas de influência territorial, ela se travava também nos campos da ciência, do cinema, da música e do pensamento.
Festivais de jazz, mostras de balé, programas de intercâmbio e revistas culturais tornaram-se instrumentos de persuasão ideológica.

A cultura tornou-se, pela primeira vez, um campo de batalha simbólico, no qual cada superpotência buscava provar que seu modelo político era também uma forma superior de civilização.

Com o fim da Guerra Fria e a expansão da globalização, a diplomacia cultural passou a refletir novos equilíbrios de poder. Países emergentes, como China, Índia, Brasil e Coreia do Sul, passaram a enxergar na cultura uma ferramenta estratégica de projeção internacional.

A emergência de fluxos culturais Sul-Sul, a popularização da internet e o crescimento das indústrias criativas transformaram o cenário: a influência deixou de ser monopólio dos Estados e passou a ser exercida também por redes, comunidades e indivíduos.

1.3. Definições contemporâneas e dimensões conceituais

O conceito de diplomacia cultural evoluiu substancialmente nas últimas décadas.

Para Erik Pajtinka (2014), ela corresponde ao “conjunto de atividades empreendidas por atores estatais — e, crescentemente, não estatais — destinadas a promover objetivos de política externa através da cultura”.

Segundo ele, a diplomacia cultural é uma forma de política simbólica que atua sobre percepções, não sobre territórios.

Natalia Grincheva (2024) propõe um avanço decisivo: compreender a diplomacia cultural como um ecossistema relacional, no qual arte, ciência, mídia e tecnologia se combinam para formar redes de cooperação internacional.

Em sua visão, trata-se menos de exportar uma identidade nacional e mais de co-criar espaços de diálogo e pertencimento transnacional, um modelo horizontal de diplomacia, voltado à empatia e à reciprocidade.

Essa distinção revela uma mudança profunda: a passagem de uma diplomacia centrada no Estado para uma diplomacia centrada nas pessoas.

Enquanto a diplomacia cultural clássica operava de forma hierárquica, difundindo valores de cima para baixo, a nova diplomacia cultural é colaborativa, participativa e interconectada.

Ela integra desde ministérios e embaixadas até universidades, ONGs, museus, plataformas digitais e artistas independentes.

Por fim, é importante diferenciar três conceitos que costumam se confundir:

  • Diplomacia cultural: ação intencional do Estado (ou de instituições associadas) para promover sua cultura no exterior.
  • Relações culturais internacionais: trocas espontâneas entre povos, instituições e indivíduos, sem coordenação estatal direta.
  • Diplomacia pública: comunicação estratégica de governos com públicos estrangeiros, na qual a cultura é um dos meios, mas não o único.

Essa tipologia mostra que, embora a diplomacia cultural seja uma forma de política de poder, ela também é um instrumento de entendimento mútuo.

E, ao contrário do que se imagina, seu sucesso não se mede apenas pela influência, mas também pela capacidade de criar confiança, um ativo raro e essencial nas relações internacionais contemporâneas.

2. A diplomacia cultural em prática: instrumentos e estratégias

2.1. Instituições nacionais e o poder simbólico da cultura

A diplomacia cultural se materializa através de instituições, programas e redes que transformam a cultura em política pública de influência. Desde o século XX, os Estados perceberam que ensinar uma língua, promover um festival ou financiar um intercâmbio pode gerar mais prestígio e lealdade internacional do que tratados militares.

França: a língua como legado universal

A França foi pioneira em compreender a cultura como vetor de política externa.

A criação da Alliance Française, em 1883, marcou o início de uma política sistemática de difusão da língua e dos valores franceses no exterior. O país consolidou uma tradição que combina o refinamento estético com a diplomacia, o que o pensador Pierre Bourdieu chamou de “capital cultural convertido em poder simbólico”.

Hoje, o Institut Français coordena centenas de centros culturais e promove o cinema, a literatura e a arte como pilares da “francofonia”. Mais do que divulgar a língua, trata-se de sustentar a ideia da França como referência universal de cultura e pensamento.

Alemanha: cultura e ciência como reconciliação

Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha transformou sua diplomacia cultural em instrumento de reconstrução moral.

O Goethe-Institut (fundado em 1951) tornou-se o coração dessa política: promove o ensino da língua alemã, organiza eventos culturais e fomenta o intercâmbio intelectual.

Instituições como a Fundação Alexander von Humboldt e o DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico) completam essa rede, com bolsas e parcerias que fazem da ciência uma forma de aproximação entre povos.

O modelo alemão é exemplar por unir prestígio cultural, credibilidade científica e compromisso democrático.

Reino Unido: a diplomacia da confiança

O British Council, criado em 1934, representa uma das experiências mais duradouras de diplomacia cultural moderna.

Sua missão de criar conexões, entendimento e confiança sintetiza a transição da cultura como propaganda para a cultura como diálogo.

Ao lado da BBC World Service, o British Council consolidou o idioma inglês como instrumento de poder e o Reino Unido como referência em educação, artes e comunicação.

A estratégia britânica baseia-se menos na imposição de valores e mais na ideia de que a influência nasce da credibilidade.

Estados Unidos: o entretenimento como poder internacional

Durante a Guerra Fria, os EUA investiram em programas de intercâmbio educacional, como o Fulbright Program, e em campanhas culturais da United States Information Agency (USIA).

O cinema de Hollywood, o jazz e a cultura pop americana tornaram-se armas silenciosas de sedução.

Como observa Joseph Nye, “a cultura popular exportada pode ser tão poderosa quanto uma frota naval” e o século XX provou isso.

No século XXI, universidades, fundações e empresas privadas (como Netflix, Disney e universidades de elite) continuam a projetar uma imagem de dinamismo, liberdade e inovação, pilares do American way of life.

China e Rússia: o retorno do soft power estratégico

A China emergiu como o principal caso contemporâneo de diplomacia cultural estatal.

Desde 2004, os Institutos Confúcio tornaram-se ferramentas centrais de promoção da língua e da cultura chinesas, hoje presentes em mais de 150 países.

Ao lado deles, iniciativas como os Festivais da Cultura Chinesa e o fortalecimento de canais de mídia internacionais refletem a tentativa de moldar uma narrativa sobre a ascensão pacífica do país.

A Rússia, por sua vez, busca reconstruir sua influência pós-soviética por meio da Fundação Russkiy Mir, da mídia internacional (RT e Sputnik) e do apoio a escolas e centros culturais ligados à diáspora russa.

Ambas representam formas assertivas de diplomacia cultural, nas quais a cultura atua como legitimadora de projetos geopolíticos.

A diplomacia cultural do século XXI extrapola os limites da “alta cultura”.
Ela se manifesta nas telas, nos palcos e nas redes, um campo em que o entretenimento, o consumo e a identidade se misturam.

O poder cultural tornou-se multinível e descentralizado, transitando entre governos, empresas e comunidades digitais.

A força das indústrias criativas

O conceito de nation branding ganhou protagonismo nas duas últimas décadas.

Música, gastronomia, moda, esportes e design passaram a integrar estratégias oficiais de imagem nacional.

Casos emblemáticos incluem:

  • Coreia do Sul: o fenômeno do K-pop e do cinema como eixo da “Korean Wave”, apoiado por políticas de Estado.
  • Japão: a diplomacia do anime e da estética minimalista, associada ao Cool Japan.
  • Brasil: o samba, o futebol e a cultura afro-brasileira como ícones espontâneos de diplomacia cultural popular.

Esses exemplos mostram que a diplomacia cultural não depende apenas de chancelerias, mas também de criadores, empreendedores e públicos internacionais.

A diplomacia cultural digital

A internet redesenhou as fronteiras da diplomacia.
Plataformas como YouTube, TikTok, Spotify e Instagram se tornaram novos palcos de poder simbólico, onde a visibilidade é o recurso mais disputado.

Como destaca Natalia Grincheva (2024), a cultura digital cria “microesferas de diplomacia”, nas quais artistas, comunidades e até algoritmos se tornam mediadores culturais.
A diplomacia digital, portanto, é menos hierárquica e mais colaborativa, marcada por influência difusa, participação e criatividade.

2.3. Novos temas e frentes de atuação

A diplomacia cultural contemporânea amplia-se para além das artes e da língua, incorporando valores universais e agendas transversais.

Cultura e sustentabilidade

A cultura é hoje reconhecida como pilar do desenvolvimento sustentável (Agenda 2030 da ONU).
Eventos internacionais, exposições e programas de cooperação cultural servem como plataformas para discutir mudanças climáticas, diversidade biológica e justiça ambiental.
Museus, cidades e ONGs tornaram-se atores diplomáticos na construção de uma “ecologia da cultura”.

Cultura, gênero e diversidade

A diplomacia cultural também reflete lutas por representação.
Festivais e mostras internacionais promovem artistas mulheres, povos indígenas, comunidades LGBTQIA+ e grupos historicamente marginalizados.
Essas práticas simbolizam uma diplomacia da empatia, em que a cultura se torna instrumento de inclusão internacional.

A língua como instrumento de poder

Línguas não são apenas meios de comunicação, são também símbolos de prestígio e autoridade cultural.

A difusão do inglês, do francês, do mandarim e do espanhol ilustra como a linguagem estrutura as hierarquias do conhecimento.

Políticas linguísticas e programas de ensino de idiomas permanecem entre os mais duradouros instrumentos de influência internacional.

A diplomacia cultural se manifesta, hoje, em múltiplos planos: como política de Estado, como mercado internacional e como rede de cooperação simbólica.

Se antes o poder cultural se baseava em instituições e academias, hoje ele se constrói também em palcos digitais, festivais, vídeos curtos e trocas imateriais.

A cultura, enfim, deixou de ser mero adorno das relações internacionais, tornou-se uma das linguagens centrais da política internacional.

3. Desafios e perspectivas da diplomacia cultural no século XXI

3.1. A geografia desigual da influência cultural

A diplomacia cultural nasceu e se consolidou sob uma matriz essencialmente ocidental.

França, Reino Unido e Estados Unidos definiram, por mais de um século, os modelos e as instituições que moldaram a política cultural internacional. Essa centralidade, porém, vem sendo progressivamente questionada.

O século XXI inaugura uma geografia mais plural da influência, marcada pela ascensão de potências emergentes e pela busca de reconhecimento simbólico por parte do Sul Global.
Países como China, Índia, Brasil, Turquia, México, Nigéria e Coreia do Sul passaram a compreender a cultura como recurso estratégico de inserção internacional, especialmente em contextos de baixa capacidade militar ou econômica.

Esses novos atores procuram equilibrar o poder simbólico tradicional do Ocidente com narrativas de diversidade, ancestralidade e modernidade própria.

Enquanto o Ocidente historicamente projetou universalismo, essas nações enfatizam pluralismo e autenticidade cultural, deslocando o foco da imposição de valores para a reivindicação de vozes.

A diplomacia cultural torna-se, assim, um espaço de disputa de legitimidade e de identidades no campo político internacional.

O desafio é duplo: afirmar a própria voz sem cair em isolacionismos e participar da conversa internacional sem reproduzir hierarquias históricas.

3.2. Atores e redes da nova diplomacia cultural

A diplomacia cultural contemporânea não pertence mais apenas ao Estado.
Segundo Natalia Grincheva (2024), vivemos um momento de “multiplicação de atores e descentralização da influência”.

Governos, cidades, universidades, museus, empresas, ONGs, coletivos artísticos e até plataformas digitais tornaram-se mediadores culturais entre sociedades.

Diplomacia das cidades

Cidades globais como Paris, Seul, Barcelona, São Paulo e Montreal desenvolvem políticas próprias de projeção cultural internacional.

Elas organizam festivais, firmam parcerias com redes de museus, participam de agendas climáticas e culturais da ONU, e integram o conceito de “diplomacia das cidades”, um movimento que combina urbanismo, cultura e política internacional.

Universidades e museus

Instituições acadêmicas e culturais são hoje verdadeiros embaixadores de países e valores.

Parcerias universitárias, intercâmbios e exposições itinerantes moldam percepções mais eficazmente do que declarações oficiais.

A cooperação científica e artística atua como diplomacia de confiança, ao criar pontes de conhecimento e colaboração entre povos.

Plataformas e cultura digital

A internet ampliou o campo da diplomacia cultural, mas também trouxe dilemas inéditos.

De um lado, democratizou a visibilidade; de outro, concentrou poder em algoritmos e corporações.

Hoje, o soft power é exercido também por plataformas privadas (YouTube, Netflix, TikTok, Meta) que determinam o alcance e o enquadramento das culturas.

A diplomacia cultural digital, portanto, precisa lidar com uma contradição estrutural: a cultura circula mais do que nunca, mas sob mediação de poucos atores internacionais.

3.3. Tensões e dilemas da diplomacia cultural

A expansão da diplomacia cultural trouxe novas oportunidades, mas também revelou tensões profundas.

Toda diplomacia cultural carrega uma ambiguidade: promover a própria cultura é também buscar influência.

A fronteira entre soft power e propaganda é tênue, e muitos programas são criticados por mascarar objetivos políticos sob a aparência de intercâmbio cultural.

Como observa Erik Pajtinka (2014), o êxito da diplomacia cultural depende de sua credibilidade e esta só existe quando o diálogo é percebido como genuíno.

Entre globalização e diversidade

A globalização favorece a circulação de bens culturais, mas também impõe lógicas homogeneizadoras.

Hollywood, o inglês e as plataformas digitais tendem a centralizar o fluxo cultural, criando uma nova forma de hegemonia simbólica.

Por isso, muitos países buscam reafirmar suas expressões locais e proteger patrimônios culturais como formas de soberania simbólica.

Entre cultura e política

A diplomacia cultural está exposta ao risco da instrumentalização.
Quando governos tentam usar artistas e intelectuais como veículos de discurso oficial, perdem a espontaneidade que torna a cultura atraente.
A diplomacia cultural eficaz é aquela que preserva autonomia, permitindo que o intercâmbio cultural revele, por si só, a vitalidade de uma sociedade.

3.4. O futuro: da diplomacia do poder à diplomacia da empatia

O futuro da diplomacia cultural não está na competição de narrativas, mas na reconstrução da confiança internacional.

Num mundo fragmentado por desinformação, polarização e guerras híbridas, a cultura oferece um dos poucos terrenos ainda capazes de gerar identificação e escuta.

A próxima etapa da diplomacia cultural deve ser menos sobre influenciar e mais sobre conectar.

Trata-se de transformar o soft power em soft understanding, um poder de compreensão, não apenas de atração.

Grincheva propõe o conceito de “cultural diplomacy ecosystems”, que substitui o paradigma da competição pela cooperação cultural distribuída: múltiplos atores, em múltiplas escalas, trocando experiências, saberes e sensibilidades.

Esse modelo se aproxima de uma diplomacia da empatia, em que a cultura é o idioma universal da convivência.

Culinária Francesa - Diplomacia Cultural

Indiações de Leituras sobre o Diplomacia Cultural

Que tal ampliar o campo da diplomacia cultural?

A diplomacia cultural, em sua essência, é um convite vibrante à construção de pontes entre culturas, nações e povos. Este campo, enraizado na troca e apreciação de valores culturais, não só enriquece o tecido das relações internacionais mas também abre um leque de oportunidades para profissionais aspirantes e estabelecidos.

Para aqueles que buscam construir uma carreira nesse campo dinâmico, a diplomacia cultural oferece um caminho recompensador e multifacetado. Desde atuar em organizações internacionais, governos e ONGs, até colaborar com instituições culturais e educacionais, as possibilidades são vastas. Profissionais podem encontrar-se organizando eventos culturais internacionais, gerenciando programas de intercâmbio, ou mesmo contribuindo para políticas que fomentam o entendimento e a cooperação global através da arte, música, literatura e além.

Além de abrir portas para uma carreira globalmente engajada, a diplomacia cultural instiga uma compreensão mais profunda da humanidade em si. Ela nos lembra que, apesar de nossas diferenças, compartilhamos aspirações, sonhos e desafios comuns. Neste sentido, trabalhar com diplomacia cultural não é apenas uma escolha de carreira; é um compromisso com a promoção da empatia, do diálogo e da paz.

A diplomacia cultural está se afirmando, como pode ver nos exemplos de diversos países e nas fundamentações teóricas, como um campo vital e crescente, oferecendo caminhos ricos e variados para a construção de carreiras significativas.

Este é um convite para ser parte de algo maior do que nós mesmos, um chamado para construir pontes em um mundo que mais do que nunca, precisa de conexão, compreensão e paz.

Conclusão

A diplomacia cultural é, ao mesmo tempo, uma estratégia e uma filosofia das relações internacionais.
Estratégia, porque molda percepções, constrói confiança e amplia a influência simbólica dos Estados.

Filosofia, porque aposta na capacidade humana de traduzir diferenças em diálogo.

Em tempos de crises globais, a diplomacia cultural é mais que um instrumento de poder, é uma forma de responsabilidade internacional.

Ela lembra às nações que a grandeza de um país não se mede apenas por seu território, mas por sua contribuição ao imaginário comum da humanidade.

A cultura é a alma visível das nações, e a diplomacia cultural, sua linguagem mais civilizada.

Amauri Couto
Amauri Couto

Especialista em carreira e desenvolvimento profissional nas áreas de Relações Internacionais, Comércio Exterior e Direito Internacional, com mais de 15 anos de experiência em instituições públicas, empresas multinacionais e organizações internacionais. Atua na formação e mentoria de profissionais de RI, orientando trajetórias que unem diplomacia, negócios internacionais e regulação internacional.

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