A profissão de Relações Internacionais poderá ser substituída pela IA?

A profissão de Relações Internacionais poderá ser substituída pela IA?

Avalio estudos e análises dos alunos diariamente. Muitos são gerados 100% por inteligência artificial generativa. O mais preocupante é saber que o próprio analista, com a oportunidade de praticar sua habilidade de escrita e de realizar uma análise técnica, transfere essa atividade para uma aplicação.

Digo para os alunos: “Você é o analista, a IA é a ferramenta”. Use elas para ajudar a levantar pontos a serem aprimorados, a fazer resumos de alguns textos – diminuído o seu trabalho de ler dezenas de artigos para no final descobrir que não servem. 

A IA deve servir para que você possa dedicar mais tempo ao que realmente importa: compreender aspectos sociais, acompanhar as interações políticas internacionais, participar ativamente de eventos e atividades políticas. 

Será que as IA vão superar os humanos no campo das RI?

Com o avanço acelerado da inteligência artificial nos últimos 5 anos pelo menos e sua integração em diversas áreas de trabalho, como atendimento e big data, a questão sobre o futuro das profissões, incluindo Relações Internacionais, tem ganhado destaque.

De acordo com relatórios e análises recentes, a IA tem o potencial de substituir tarefas rotineiras e baseadas em dados, mas é improvável que elimine completamente profissões que dependem de habilidades humanas únicas, como empatia, diplomacia, negociação e gestão de crises.

O impacto da IA em tarefas e funções de Relações Internacionais

A área abrange uma combinação de atividades complexas, que estão no limiar da capacidade humana de interagir em cenários sociais, incluindo análise de políticas, negociação diplomática, formulação de estratégias e gestão de crises internacionais. 

Algumas dessas tarefas já estão sendo transformadas pela IA:

  1. A IA pode processar grandes volumes de dados e identificar padrões com rapidez, otimizando o trabalho de analistas de políticas e pesquisadores.
  2. Ferramentas de IA podem auxiliar na elaboração de relatórios, monitoramento de mídias sociais e até na gestão de eventos internacionais.
  3. Algoritmos podem ser usados para prever cenários políticos ou econômicos, ajudando na tomada de decisão.

Embora essas inovações aumentem a eficiência e reduzam custos, elas não substituem o trabalho do analista de interpretar contextos culturais e políticos complexos ou realizar negociações.

Dito isso, podemos então considerar que existem habilidades que as IAs não vão substituir, mas vão impactar profundamente. 

Habilidades humanas que a IA não consegue replicar

A profissão de Relações Internacionais exige habilidades que vão além do alcance atual da IA, como:

  • Resolver conflitos internacionais requer empatia, compreensão cultural e uma abordagem flexível, aspectos que não podem ser codificados em algoritmos.
  • A formulação de políticas internacionais envolve lidar com incertezas e contextos dinâmicos, o que exige julgamento humano.
  • As relações diplomáticas dependem de interações interpessoais, algo que a IA não substitui.

Além disso, aspectos éticos e morais em questões internacionais — como direitos humanos e justiça social — dependem de valores humanos que uma máquina não possui.

Diplomacia, Relações Internacionais e Inteligência Artificial
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A adaptação da profissão na era da IA

Ao invés de substituir a profissão, a IA pode ser vista como uma ferramenta poderosa para aprimorar as práticas em Relações Internacionais. Profissionais que abraçarem a tecnologia e desenvolverem competências complementares, como análise de dados, habilidades digitais e compreensão de tecnologias emergentes, estarão em uma posição vantajosa no mercado.

Segundo estudos do McKinsey Global Institute, cerca de 14% dos trabalhadores precisarão mudar de carreira até 2030 devido à automação. No entanto, isso também representa uma oportunidade para o surgimento de novas funções e especializações dentro da área, como:

  • Gestão de riscos cibernéticos
  • Paradiplomacia digital
  • Consultoria em tecnologia e governança

A coexistência entre IA e Relações Internacionais

A IA não substituirá a profissão de Relações Internacionais, mas transformará a maneira como os profissionais atuam, automatizando tarefas repetitivas e permitindo que o internacionalista esteja mais tempo lidando com negociações, avaliando cenários e trabalhando na defesa dos interesses das instituições às quais fizer parte. 

No entanto, a criatividade, a ética e a habilidade de construir pontes entre culturas e interesses permanecerão como diferenciais exclusivamente humanos. O futuro da profissão dependerá da capacidade dos internacionalistas de se adaptarem, combinando suas habilidades tradicionais com as novas ferramentas tecnológicas disponíveis. A IA será, antes de tudo, uma aliada na construção de um mundo mais interconectado e eficiente.

De forma bem didática: o tempo que a IA economiza no seu trabalho deve ser aproveitado para você focar em atividades essencialmente humanas, como participar de reuniões, comparecer a eventos, aprofundar seus estudos, analisar discursos ou explorar novas oportunidades.

Guilherme Bueno
Guilherme Bueno
esri.net.br

Sou analista de Relações Internacionais. Escolhi Relações Internacionais como minha profissão e sou diretor da ESRI e editor da Revista Relações Exteriores. Ministro cursos, realizo consultoria e negócios internacionais. Gosto de escrever e já publiquei algumas centenas de posts e análises.

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