A carreira acadêmica em relações internacionais é uma das principais escolhas dos que pretendem compreender e contribuir para entender a política internacional, as relações entre países e as transformações no mundo para além das fronteiras.
A área de RI é multifacetada e dinâmica, sendo o trabalho acadêmico-científico fundamental para a compreensão das dinâmicas, das relações e das interações entre Estados e outros atores internacionais.
Para aqueles que se dedicam a essa área, a carreira acadêmica se apresenta como uma oportunidade enriquecedora de contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e formar as futuras gerações de analistas internacionais e profissionais que vão levar esses conhecimentos para a sociedade.
Nesta postagem, exploraremos as oportunidades na área acadêmica para profissionais de Relações Internacionais, destacando a importância do estudo contínuo, da pesquisa e do ensino para o avanço dessa disciplina fundamental.
Linhas de Pesquisa em Relações Internacionais
O campo internacional não é simples, há diferentes divisões áreas de estudos que se desenvolveram de forma específica. Cada instituição de ensino terá sua própria abordagem e áreas de interesse, sendo assim importante trazer as principais áreas.
A carreira acadêmica em relações internacionais abrange uma vasta gama de áreas, cada uma com seu foco e especialização. Entre as principais linhas de pesquisa e programas, destacam-se:
Economia Política Internacional
Linha disponível no Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da UFSC (PPGRI-UFSC): Esta linha abrange os temas relacionados à interação da política com a economia, dos Estados com os mercados na sua dimensão internacional (inseparável, porém, da dimensão da política interna). A EPI é uma subárea muito dinâmica das Relações Internacionais e, ao mesmo tempo, projeta-se além, com estreitas conexões tanto com a Economia como com a Ciência Política e Política Comparada.
Política Externa e Instituições
IRI-USP: Temática relacionada ao estudo da formulação da política externa dos países, especialmente do Brasil, e das suas interrelações com a instituições, domésticas e internacionais. Trata dos processos decisórios da política externa e seus condicionantes, assim como destes mesmos processos nas instituições internacionais. As pesquisas podem tratar de diversos temas relacionados a política externa como imigração, direitos humanos, segurança e cooperação internacional.
Governança e História das Relações Internacionais
IRI-USP: Trata-se de questões de governança internacional e de processos globais que se desenvolvem ao longo do tempo e do espaço. Incluem estudos sobre governança de sistemas internacionais e estudos sobre história global, com ênfase nas relações internacionais entre atores estatais e não-estatais a partir de múltiplas perspectivas temporais e espaciais.
Segurança Internacional:
PPGRI-UFU: A linha de pesquisa Segurança Internacional privilegiará analises teoricamente informadas, desde aquelas consideradas canônicas, como os debates realistas e discussões relativas aos Estudos Estratégicos, assim como aquelas influenciadas pelo movimento teórico crítico de Relações Internacionais, especialmente de matriz construtivista, pós-estruturalista e pós-colonialista. Os projetos de pesquisa e as disciplinas dessa linha tratarão, sobretudo, da discussão sobre polaridade no sistema internacional, resolução de conflitos intraestatais, operações de paz, políticas de segurança e defesa das potências mundiais e de países emergentes, e temáticas como terrorismo e proliferação de armas de destruição em massa.
Cooperação, Integração e Instituições Internacionais;
PPGRI-UEPB: Numa perspectiva pluralista, possibilita a avaliação dos diferentes processos de cooperação e de integração, assim como das múltiplas instituições internacionais, podendo-se igualmente contemplar o papel dos atores dentro desses processos e instituições.
Política Internacional
PPGRI-UFSC: Esta linha inclui o estudo das dinâmicas políticas associadas à área internacional, à luz de abordagens estatais e não-estatais. Trata-se de uma linha de forte diálogo com as Ciências Sociais e Ciências Humanas de forma transversal e interdisciplinar. As agendas de política externa e de defesa, de igual maneira, são estudadas a partir da premissa de sua expansão concomitante à expansão dos atores, o que inclui tanto atores estatais quanto não-estatais. Abarca o estudo de política externa, instituições e organizações internacionais e defesa e segurança internacional, incluindo temas como: cooperação internacional, guerras e conflitos intraestatais e interestatais, integração regional, direitos humanos e internacional, relações bilaterais e multilaterais, normas e regimes internacionais.
Existem outras linhas, essas são comuns em muitas instituições por sua abrangência e possibilidades de estudos, mas existem linhas mais específicas. Além disso, cada linha conta com disciplinas específicas que o aluno dos programas de pós-graduação precisam cursar.
A Importância do Desenvolvimento Acadêmico
Como você pode imaginar, produzir conhecimento é fundamental para um país se desenvolver. A academia tem um papel fundamental e precisa de mais investimento público e privado para sustentar programas fortes de pesquisa.
A acadêmica em Relações Internacionais cumpre um papel central, primeiro por formar profissionais para atender às crescentes necessidades da sociedade, segundo por fornecer as bases teóricas e metodológicas necessárias para entender as complexas dinâmicas do sistema internacional.
Professores e pesquisadores desempenham um papel crucial ao:
- Produzir Conhecimento: Através de pesquisas e publicações, os acadêmicos contribuem para o avanço do conhecimento em RI.
- Formar Profissionais: Educando e inspirando a próxima geração de internacionalistas, diplomatas e analistas.
- Influenciar Políticas: As pesquisas acadêmicas frequentemente informam e influenciam políticas públicas e estratégias internacionais.
Carreira Acadêmica em Relações Internacionais
Além do ensino, a carreira acadêmica em RI envolve várias etapas e atividades, incluindo:
- Pesquisa: Realizar pesquisas sobre temas relevantes em RI, publicar artigos em revistas acadêmicas e participar de congressos e conferências.
- Ensino: Lecionar em universidades e faculdades, oferecendo cursos e orientando estudantes de graduação e pós-graduação.
- Desenvolvimento de Currículos: Contribuir para o desenvolvimento de programas de estudo e currículos que reflitam as necessidades e tendências atuais do campo.
- Consultoria: Oferecer consultoria para instituições de ensino, governos e organizações internacionais com base em suas áreas de estudos e experiência acadêmica.
- Grupos: Colaborar com outros acadêmicos em grupos de pesquisa para explorar novas áreas e desenvolver projetos conjuntos.
Preparação para a Carreira Acadêmica
Seguir uma carreira acadêmica em Relações Internacionais requer uma preparação cuidadosa e contínua, pois os processos seletivos são rigorosos e exigem dos futuros pesquisadores.
Aqui estão algumas dicas importantes para aspirantes a acadêmicos:
- Currículo Acadêmico: Participe de projetos de pesquisa, monitorias, bolsas de iniciação científica e publique artigos em revistas especializadas. Crie o seu Currículo Lattes.
- Escolha uma linha de pesquisa: Estude os editais (livros indicados) para se preparar para os processos seletivos, que vão exigir domínio teórico sobre relações internacionais.
- Projeto de Pesquisa: Pesquise por assuntos que precisam de novas pesquisas ou que ainda não existam estudos sobre, questões que precisam ser respondidas através de estudos amplos e estruturados.
- Integração: Busque apresentar seus trabalhos, participe de debates e mantenha-se atualizado sobre as tendências área de RI.
Temas Emergentes para Pesquisa em Relações Internacionais
O campo de Relações Internacionais está em constante evolução, e novos temas de pesquisa continuam a surgir, refletindo as mudanças e os desafios internacionais atuais. Para acadêmicos e pesquisadores, é crucial explorar esses tópicos para contribuir com o avanço do conhecimento e informar políticas eficazes.
Além dos temas tradicionais, há áreas emergentes que merecem atenção especial, muitas das quais têm fortes conexões com o setor privado.
Aqui estão alguns dos temas emergentes mais relevantes:
1. Tecnologia e Cibersegurança
As tecnologias emergentes, como inteligência artificial, big data e internet das coisas (IoT), estão transformando as relações internacionais. A cibersegurança, em particular, tornou-se uma preocupação central, com Estados e empresas enfrentando ameaças constantes de ataques cibernéticos, por exemplo.
Questões de Pesquisa:
- Como os Estados estão adaptando suas políticas de segurança nacional para enfrentar ameaças cibernéticas?
- Qual é o papel das empresas de tecnologia na defesa cibernética contra novas ameaças?
- Como a cooperação internacional pode ser fortalecida para combater cibercrimes e proteger infraestruturas críticas?
2. Mudanças Climáticas e Política Ambiental
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios do século XXI. As políticas ambientais e as estratégias de cooperação internacional são cruciais para mitigar os efeitos do aquecimento global e promover a sustentabilidade.
Questões de Pesquisa:
- Como as mudanças climáticas estão influenciando as políticas externas dos Estados?
- Quais são os modelos eficazes de cooperação internacional para combater as mudanças climáticas?
- Como o setor privado e o Estado podem contribuir para a sustentabilidade através de práticas empresariais verdes?
3. Política Comparada
Estudos comparativos entre diferentes países e regiões oferecem aprendizados importantes sobre as variações nas políticas externas e internas, ajudando a entender melhor os fatores que influenciam o comportamento dos Estados no sistema internacional.
Questões de Pesquisa:
- Quais são as principais diferenças nas políticas de segurança e defesa entre democracias e regimes autoritários?
- Como diferentes sistemas econômicos influenciam as estratégias de comércio exterior?
- Quais fatores culturais e históricos afetam a política externa chinesa (ou outro país de seu interesse) e como se compara com o Brasil?
Diplomacia Corporativa e Inteligência Comercial
Com a globalização, as empresas multinacionais desempenham um papel cada vez mais importante nas relações internacionais, são novos atores e ainda carecem de estudos, que costumam ser centrados no Estado. A diplomacia corporativa e a inteligência comercial são essenciais para entender o mundo atual e como será o futuro das relações internacionais.
Questões de Pesquisa:
- Como as empresas multinacionais utilizam a diplomacia corporativa para influenciar políticas públicas em países específicos?
- Quais são as melhores práticas de inteligência comercial para antecipar tendências de mercado e riscos políticos?
- Como as parcerias público-privadas podem melhorar as relações econômicas internacionais?
5. Paradiplomacia
A paradiplomacia refere-se à atuação de governos subnacionais, como estados e municípios, nas relações internacionais. Esses atores estão cada vez mais envolvidos em questões globais, como comércio, meio ambiente e cooperação cultural. A pandemia acelerou a internacionalização das cidades, abrindo espaço para mais estudos para além do Estado.
Questões de Pesquisa:
- Como os governos subnacionais estão influenciando as políticas externas de seus países?
- Quais são os exemplos bem-sucedidos de paradiplomacia e o que podem ensinar a outros atores subnacionais?
- Como as cidades globais estão colaborando em questões transnacionais, como mudanças climáticas e segurança urbana?
6. Inteligência Artificial e Relações Internacionais
A inteligência artificial está revolucionando muitos aspectos da sociedade, incluindo a segurança nacional, a economia e a diplomacia. A IA pode ser usada para analisar grandes volumes de dados, prever conflitos e otimizar políticas públicas.
Questões de Pesquisa:
- Como a IA pode ser utilizada para melhorar a coleta e análise de inteligência?
- Quais são os impactos éticos e de segurança da IA nas relações internacionais?
- Como os estados podem regular o uso de IA para evitar abusos e promover a cooperação internacional?
7. Globalização e Desglobalização
A globalização tem sido um motor de crescimento econômico e integração cultural, mas movimentos de desglobalização estão ganhando força, influenciados por políticas protecionistas e nacionalistas.
Questões de Pesquisa:
- Quais são as causas e consequências dos movimentos de desglobalização?
- Como a desglobalização (e se há esse fenômeno) afeta as relações comerciais e diplomáticas entre os estados?
- Quais estratégias podem ser adotadas para equilibrar os benefícios da globalização com as preocupações nacionais?
8. Saúde Global e Diplomacia da Saúde
A pandemia de COVID-19 destacou a importância da saúde global e da diplomacia da saúde. A cooperação internacional é crucial para enfrentar pandemias e promover a saúde pública global.
Questões de Pesquisa:
- Como a diplomacia da saúde pode melhorar a resposta global a pandemias?
- Quais são os desafios e oportunidades para a cooperação internacional em saúde pública?
- Como as políticas de saúde global podem ser integradas às estratégias de segurança nacional?
Uma área fundamental, necessária e urgente
Nos últimos anos, testemunhamos um movimento contrário à vida acadêmica, com afirmações de que diplomas universitários não são mais necessários e que estudantes são desocupados. No entanto, isso só reforça a importância da educação superior, pois a ciência possibilita a concretização de projetos internacionais significativos, como o Pacto de Kyoto e a criação da União Europeia. Muitos pesquisadores foram essenciais para que esses projetos se tornassem realidade.
A carreira acadêmica precisa ser valorizada, especialmente no Brasil, onde muitos estudos são conduzidos com recursos insuficientes, e os pesquisadores frequentemente sacrificam outros aspectos de suas vidas para perseguir seus sonhos de contribuir para a academia e gerar impacto na ciência e no desenvolvimento nacional.
Para aqueles que têm paixão pelo ensino e pela pesquisa, essa área oferece inúmeras oportunidades para impactar a formação de futuros profissionais e influenciar políticas internacionais.
Os desafios são muitos, mas é possível superá-los. Investir em educação continuada, participar ativamente da comunidade acadêmica e estabelecer um forte networking são passos essenciais para construir uma carreira de sucesso em Relações Internacionais.
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Desejo muito sucesso a todos que escolheram essa área. Espero que este post tenha ajudado a esclarecer dúvidas. Sucesso!