Internacionalização como estratégia para retornos crescentes em um mundo incerto

Internacionalização como estratégia para retornos crescentes em um mundo incerto

O cenário do século XXI é permeado por mudanças rápidas no que concerne às dinâmicas empresariais até então existentes. Adaptações das estratégias das empresas que não podem ser estáticas e rígidas como era no modelo tradicional, fazem-se urgentes. Essa nova conjuntura propicia o surgimento de sistemas e modelos mais descentralizados em unidades de negócio – como a internacionalização -, os quais vem ganhando espaço no meio empresarial moderno.

Na década de 70, com a consagração do liberal-capitalismo, inicia-se fluxos financeiros crescentes de capital e a ideia proeminente do fim das fronteiras para a mobilização de recursos e de investimentos é fortalecida, culminando no aumento do intercâmbio e de trocas entre países e o início do processo de globalização tanto financeira quanto econômica.

A crescente movimentação das economias, desencadeada pela globalização e pela formação de blocos econômicos, tem favorecido o papel das empresas multinacionais como geradores de aperfeiçoamentos tecnológicos e processos de integração de mercados.

Arantes e Furquim (2011, p. 117).

As empresas consideradas como players limitados à esfera doméstica, na qual a sua oferta de mão de obra era restrita, passam a figurar como players que ultrapassam questões territoriais, aumentando sobremaneira as relações entre empresas e países. O desempenho de uma empresa deixa de ser apenas limitado à sua organização interna, passando a atuar numa esfera multidimensional. “Essas empresas passaram, então, a adotar estratégias de associação horizontal, seguidas por consolidações e integrações verticais visando a atender às novas e crescentes demandas urbanas.” (ARANTES; FURQUIM, 2011, p.118). Essas readequações permitiram fluxos produtivos mais eficientes, sistematização de processos e padronização de produção.

Países pertencentes a uma filosofia liberal já consolidada com um estágio de capitalismo avançado, necessitam expandir suas relações em busca de novos mercados e recursos (insumos, tecnologia, mão de obra, mercado consumidor), tendo as empresas como os agentes dessa expansão. A expansão para além das fronteiras nacionais só é possível quando a empresa como Grupo, já está consolidada no mercado de origem, considerando a complexidade organizacional interna, que lhe possibilita a adequação em diversos mercados. Isso exposto, instaura-se novas estratégias e escolhas de como pensar a empresa além do que era apresentado naquele contexto. Vê-se que “a realidade da concorrência global é parte fundamental do processo de administração estratégica e influencia significativamente o desempenho das empresas” (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013, p.6).

A hiper concorrência oriunda da competição global e inerentes processos de instabilidade e mudança, “fazem com que as empresas desafiem suas concorrentes na esperança de melhorar sua posição competitiva e, por fim, o seu desempenho”. (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013, p. 7). O desempenho refere-se à competividade da empresa, e está fortemente ligado às suas competências e à capacidade de evolução, uma vez que as demandas são mutáveis e adaptáveis a diferentes contextos históricos e sociais. Dessa forma, “as firmas estabelecem competências específicas para coordenação de suas atividades, e o escopo de diversificação das firmas é derivado dessas competências específicas”. (DOSI; TEECE, 1993 apud ARANTES; FURQUIM, 2011, p. 119).

A diversificação e expansão propostas exigem a elaboração de estratégias para implementação de ações e diretrizes. Dentre as diversas correntes teóricas sobre estratégia, a estratégia internacional, como promotora de vantagem competitiva e crescimento corporativo é recorrentemente utilizada atualmente. “As estratégias de internacionalização são aquelas que analisam o movimento de crescimento das empresas para além dos limites do seu mercado doméstico (PAULA, 2003 apud ARANTES; FURQUIM, 2011, p. 122) e estão relacionadas também com o enfoque internacional dado à produção e à distribuição dos ativos das empresas” (HAGEDOORN,1994 apud ARANTES; FURQUIM, 2011, p. 122).

 Considerando a conjuntura hoje pautada na economia globalizada, como sendo “aquela na qual bens, serviços, pessoas, habilidades e ideias cruzam livremente as fronteiras geográficas” (HITT; IRELAND, e HOSKISSON, 2013, p. 7), a estratégia internacional torna-se a mais plausível para empreender uma análise estrutural da atuação de organizações e de países. Por esse princípio, alternativas antes impensadas, começaram a ser questionadas como por exemplo, por que não tentar fontes de receita alternativas além dos países de origem dessas empresas? A partir dessa premissa, torna-se viável investir em países que serão fonte de receita e de lucratividade no futuro próximo.

A competitividade das empresas e grupos deixa de estar contida em fronteiras nacionais e passa a ser global, no qual tem-se o processo de competição de um número cada vez maior de empresas em um número cada vez maior de economias globalizadas, aumentando-se a exigência de qualidade a nível de produto e de melhores padrões de desempenho.

A administração estratégica faz-se fundamental às análises a serem apreendidas e aos respectivos estudos de aspectos positivos e negativos oriundos dessa nova alternativa existente e de seus modos de entrada, para de fato traçar direcionamentos e implementar ações para que a expansão ocorra.

Modos de entrada em mercados internacionais são arranjos por meio dos quais é possível a inserção de produtos, tecnologias, habilidades humanas, práticas de gestão e outros recursos de uma empresa em mercados externos.

Root (1994) apud Steinbruch et al (2015, p. 16).

 Dentre as alternativas oferecidas pela administração estratégica, a análise da descentralização em unidades de negócios, permitiria a coexistência de uma empresa diversificada, com competências e vantagens em cada elo da cadeia de valor, componente de grupos empresariais. Uma das estratégias internacionais utilizada é o Investimento Externo Direto dentre outras opções como exportação, licenciamento, aquisições e etc.

O Investimento Externo Direto é caracterizado por uma situação em que um dado empreendimento, alocado num mercado considerado potencial, recebe capital de um investidor estrangeiro, com controle total ou parcial desse empreendimento, numa perspectiva de longo prazo.

Amal e Seabra (2007) apud Arantes e Furquim (2011, p. 117).

Quando surgem mercados incipientes, demandas em países estrangeiros com certa regularidade ou potencial de aumentos, justifica-se a execução de investimento externo direto. Outro ponto a se analisar é ter uma fonte de recursos que atenda às necessidades existentes, e baixos custos de produção, tanto no que condiz à matéria prima quanto à mão de obra.

A literatura da área discorre sobre dois tipos de investimento externo direto, dividindo-o em duas vertentes, sendo:

Investimento externo direto inward que refere-se ao “fluxo de investimento que parte do internacional para o mercado doméstico e (2) fluxo de investimento outward – fluxo de investimento que parte do mercado doméstico para o internacional.

Ferreira e Dib (2015, p. 500).

Além da divisão dos tipos de investimento externo direto, tem-se ainda uma discussão teórica sobre a influência da internacionalização via esse modo de entrada específico, tendo impactos diferentes em economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Segundo Ferreira e Dib (2015) existe uma relação linear positiva entre os investimentos realizados pelas economias desenvolvidas, sendo o investimento outward maior que o inward. Essa relação é exatamente inversa em economias em desenvolvimento, nas quais o investimento inward é maior que o outward, gerando uma relação linear negativa.

Considerando que as demandas são hoje globais, as empresas das economias desenvolvidas e em desenvolvimento devem responder a inputs e às exigências de forma instantânea. Os incentivos para adoção de uma estratégia internacional seriam ampliação do tamanho de mercado; retorno sobre investimento; economias de escala, aprendizado e vantagens de localidade.

Com um cenário favorável, fatores e capacidades de realização de investimentos outward, as empresas do mundo desenvolvido, possuem enormes motivações para empreender ações em países em desenvolvimento repleto de imperfeições. “Estipula que quanto maiores as imperfeições, maior a propensão a que as EMN’s[1] escolham modos como os investimentos de raiz (greenfield) aquisições ou joint- ventures” (HENNART,1982; ROOT, 1994; MAKINO; NEUPERT, 2000; BROUTHERS; HENNART, 2007 apud FERREIRA; SERRA E REIS, 2011, p.33).

O processo de internacionalização das empresas promove seu crescimento, seja por meio da presença em mercados internacionais, seja por aumento de produção, gerando não somente oportunidades, mas também complexidade organizacional, a qual vai muito além da simples dicotomia centralização-descentralização nos processos de governança.

Arantes e Furquim (2011, p. 123).

Contudo, essa expansão das multinacionais de economias desenvolvidas não tem crescimento e desempenho infinitos, passando por estágios de inclinação ascendentes e descendentes tal como a ascensão e a maior representatividade de países considerados como emergentes. Logo, a congregação do arcabouço conceitual de análise e a aplicabilidade concreta faz-se fundamental para a compreensão das dinâmicas contemporâneas e para o sucesso não apenas de organizações públicas e/ou privadas, mas também dos países por meio da Internacionalização nas suas mais distintas facetas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] EMNs= Empresas Multinacionais

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