Teoria das Relações Internacionais: Guia de Estudos Completo 2024

Teoria das Relações Internacionais: Guia de Estudos Completo 2024

Como profissional de Relações Internacionais, entendo a importância dos fundamentos teóricos. Ao mesmo tempo, é um grande desafio entender as teorias e como aplicá-las corretamente. As teorias das Relações Internacionais são amplas, diversas e conflitantes quanto a certos temas.

Para que você possa estudar as teorias das Relações Internacionais, elaborei um guia completo sobre o assunto.

História da Disciplina de Relações Internacionais

O estudo formal das Relações Internacionais (RI) emergiu como uma resposta direta às devastadoras consequências da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um conflito sem precedentes que reconfigurou o cenário geopolítico mundial e impôs uma reflexão urgente sobre a natureza das interações entre os Estados. Este período de intensa turbulência e a subsequente busca por paz e estabilidade global sinalizaram o nascimento da RI como uma disciplina acadêmica dedicada.

O Contexto Pós-Primeira Guerra Mundial

Após o armistício de 1918, a comunidade internacional estava empenhada em encontrar mecanismos que impedissem a repetição de tal catástrofe. A Liga das Nações, estabelecida em 1920 pela Conferência de Paz de Paris, representou o primeiro esforço significativo de criação de uma instituição global destinada a promover a paz e a cooperação internacional. Embora a Liga tenha enfrentado várias limitações, sua criação marcou um ponto de inflexão na maneira como os conflitos internacionais seriam abordados, enfatizando a diplomacia e a negociação coletiva em detrimento do confronto unilateral.

Fundação Acadêmica das RI

A necessidade de compreender e teorizar sobre as causas dos conflitos internacionais e as estratégias para a paz levou à institucionalização das RI como disciplina acadêmica. Um marco fundamental foi a criação da primeira cátedra de RI no mundo, na Universidade de Aberystwyth, País de Gales, em 1919, financiada por uma doação de David Davies com o objetivo de promover a paz mundial através do estudo acadêmico. Este foi um momento decisivo que estabeleceu as RI como um campo de estudo formal, dedicado a analisar as relações entre os Estados, os mecanismos de cooperação internacional e as formas de prevenir conflitos.

O desenvolvimento inicial das RI foi marcado pela predominância de abordagens idealistas, que acreditavam na capacidade da lei internacional, das instituições globais e da moralidade para garantir a paz mundial. Autores como Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos e um dos arquitetos da Liga das Nações, e o filósofo britânico Norman Angell, cujo trabalho “The Great Illusion” (1910) argumentava que a guerra era econômica e moralmente obsoleta, foram influentes nessa fase inicial.

Teoria das Relações Internacionais - Woodron wilson

No entanto, o fracasso da Liga das Nações em prevenir a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o realismo político emergente representado por E.H. Carr em “The Twenty Years’ Crisis” (1939) desafiaram o idealismo. Carr criticou o idealismo por sua ingenuidade e enfatizou a importância do poder e dos interesses nacionais nas relações internacionais. Este debate entre idealismo e realismo definiu as primeiras discussões teóricas no campo das RI.

Após a Segunda Guerra Mundial, as RI expandiram-se e diversificaram-se significativamente, com o estabelecimento das Nações Unidas em 1945 e a emergência da Guerra Fria como contextos definidores do estudo das relações internacionais. O realismo ganhou proeminência com teóricos como Hans Morgenthau, que em “Politics Among Nations” (1948), articulou uma visão do comportamento dos Estados centrada na luta pelo poder.

Principais Teorias das Relações Internacionais

Desde seu nascimento no período pós-Primeira Guerra Mundial, as RI evoluíram de um foco inicial na busca idealista pela paz para abraçar uma gama diversificada de teorias que refletem a complexidade das relações globais. A disciplina continua a se adaptar e responder às mudanças no ambiente internacional, mantendo seu objetivo fundamental de compreender as interações entre os Estados e buscar caminhos para a cooperação e a paz global.

O coração das RI é composto por suas teorias, cada uma oferecendo diferentes lentes através das quais podemos analisar os fenômenos internacionais. Estas teorias não são meramente abstrações acadêmicas; elas são ferramentas vitais que nos ajudam a interpretar o passado, compreender o presente e prever o futuro da política global.

A evolução das teorias das Relações Internacionais (RI) reflete as mudanças nas práticas globais, eventos históricos marcantes e debates intelectuais ao longo do tempo. As teorias foram desenvolvidas em resposta a esses contextos, cada uma buscando explicar os padrões de interação internacional, as estruturas de poder e as possibilidades de cooperação e conflito. Abaixo está um quadro que esquematiza essa sequência evolutiva, destacando teorias chave, suas posições na evolução da disciplina, principais pensadores e outros elementos relevantes.

TeoriaPosição na EvoluçãoPrincipais PensadoresContribuições/FocoContexto Histórico
RealismoInícioHans Morgenthau, Thucydides, Kenneth WaltzPoder e segurança do Estado, anarquia sistêmica, política de poderPós-Primeira Guerra Mundial, Guerra Fria
LiberalismoInícioWoodrow Wilson, Immanuel Kant, John LockeCooperação internacional, instituições, comércio e democraciaApós a Primeira e Segunda Guerras Mundiais
NeorrealismoMeioKenneth WaltzEstrutura do sistema internacional, distribuição de poderDurante e após a Guerra Fria
NeoliberalismoMeioRobert Keohane, Joseph NyeInstituições e regimes internacionais, interdependênciaApós a Segunda Guerra Mundial, final da Guerra Fria
ConstrutivismoFinal do século XXAlexander Wendt, John RuggieIdentidades e interesses socialmente construídos, normasPós-Guerra Fria, anos 1990
Teoria CríticaFinal do século XXJürgen Habermas, Robert CoxEstruturas de poder, emancipação, crítica da ordem globalAnos 1980 em diante, pós-Guerra Fria
FeminismoFinal do século XXCynthia Enloe, Ann TicknerGênero nas RI, poder e marginalizaçãoAnos 1980 em diante
Pós-estruturalismoFinal do século XXMichel Foucault, Jacques DerridaDiscurso, poder, identidade e representaçãoAnos 1980 em diante
MarxismoMeioKarl Marx, Vladimir Lenin, Immanuel WallersteinLuta de classes, imperialismo, sistema-mundo capitalistaRevolução Industrial, Guerra Fria
Escola InglesaMeioHedley Bull, Martin WightSociedade internacional, ordem, normasMeados do século XX

Este quadro ilustra a diversidade de abordagens teóricas dentro das RI, cada uma oferecendo perspectivas únicas sobre as dinâmicas globais. As teorias evoluíram não apenas em resposta a mudanças no cenário internacional, mas também devido a debates internos e críticas entre os teóricos. Compreender essa sequência evolutiva ajuda a apreciar a complexidade das relações internacionais e a riqueza analítica que as diversas teorias proporcionam à disciplina.

Realismo

O Realismo é uma das teorias mais influentes e duradouras no estudo das Relações Internacionais, proporcionando uma estrutura analítica para compreender as complexas dinâmicas do cenário global. Reconhecido por sua ênfase na luta pelo poder e na anarquia sistêmica, o realismo tem suas raízes intelectuais em pensadores antigos como Tucídides e se desenvolveu ao longo dos séculos, refletindo sobre as inquietudes e os desafios de cada era.

Origens e Desenvolvimento

Historicamente, o realismo é traçado até as observações de Tucídides sobre as Guerras do Peloponeso, onde a ascensão do poder ateniense instigou o medo espartano, levando ao conflito. Esse padrão de comportamento estatal, onde o aumento do poder de um estado gera insegurança em outros, estabelece a premissa fundamental do realismo: as relações internacionais são regidas pela luta incessante pelo poder e segurança.

A formulação contemporânea do realismo começou a tomar forma na década de 1930 e início dos anos 1940, com E.H. Carr e Hans Morgenthau liderando esse desenvolvimento. Carr, em “The Twenty Years’ Crisis”, e Morgenthau, através de “Politics Among Nations”, estabeleceram o realismo como uma crítica às abordagens idealistas que dominaram o período entre guerras, argumentando que essas visões negligenciavam a natureza intrinsecamente conflitiva das relações internacionais.

O realismo sustenta que o internacional é um domínio de anarquia, onde não existe uma autoridade central para regular o comportamento dos Estados. Neste sistema, os Estados, motivados por interesses próprios de poder e segurança, operam em um constante estado de competição. Esta perspectiva introduz uma visão sombria da política global, onde o conflito é visto como a norma, e a paz, um interlúdio temporário.

Realismo Clássico vs. Neorrealismo

Embora o realismo clássico, representado por Morgenthau, enfatize a natureza humana como a causa dos conflitos internacionais, o neorrealismo, ou realismo estrutural, liderado por Kenneth Waltz, propõe uma revisão significativa. Em “Theory of International Politics”, Waltz argumenta que não é a natureza humana, mas a estrutura anárquica do sistema internacional que inevitavelmente leva à competição e ao conflito. Essa abordagem estrutural desloca o foco para a distribuição do poder entre os Estados como determinante principal do comportamento estatal.

Apesar de sua proeminência, o realismo enfrentou várias críticas e passou por adaptações ao longo do tempo. Desafios vêm de teorias alternativas, como o liberalismo e o construtivismo, que questionam a ênfase do realismo no conflito e na competição, propondo, em vez disso, a cooperação e a construção social das relações internacionais. Além disso, o advento da globalização e o aumento da violência intranacional no século XXI levantaram questões sobre a relevância contínua do realismo.

Relevância Contemporânea

Apesar desses desafios, o realismo mantém sua relevância, adaptando-se para abordar as novas dimensões da política global. Sua capacidade de evoluir e incorporar novas análises sobre o poder, a segurança e a natureza das relações internacionais garante que o realismo permaneça um pilar fundamental no estudo das RI. O realismo continua a oferecer insights valiosos sobre a natureza do poder, a competição entre Estados, e as estratégias para navegar em um mundo anárquico, reafirmando sua posição como uma teoria indispensável para entender a complexidade das relações internacionais.

Liberalismo

O Liberalismo emerge como uma das principais teorias das Relações Internacionais (RI), oferecendo uma visão alternativa à perspectiva realista dominante. Enquanto o realismo enfoca o conflito inerente e a competição por poder entre os estados, o liberalismo destaca as possibilidades de cooperação, o papel das instituições internacionais e a interdependência econômica como mecanismos para promover a paz e a estabilidade global.

Raízes Intelectuais e Evolução

O liberalismo tem suas raízes no pensamento iluminista de filósofos como Immanuel Kant e John Locke, que advogavam pela governança baseada em leis, liberdades individuais e a possibilidade de progresso e paz através da razão e da cooperação. Na esfera das RI, essas ideias foram adaptadas para enfatizar como os estados podem coexistir pacificamente e trabalhar juntos para alcançar objetivos comuns.

Immanuel Kant e a Paz Perpétua

Immanuel Kant, em sua obra seminal “Para a Paz Perpétua” (1795), propôs um esboço para a paz mundial baseado na república constitucional, na federação de estados livres e no cosmopolitismo. Esses princípios influenciaram profundamente o pensamento liberal nas RI, sugerindo que a democracia e a cooperação internacional são fundamentais para a construção de uma paz duradoura.

Princípios Fundamentais do Liberalismo

Cooperação Internacional

Diferente do realismo, que vê a anarquia internacional como um campo de batalha perpétuo, o liberalismo acredita que os estados podem superar a desconfiança mútua e colaborar para o benefício mútuo, especialmente em áreas como comércio, direitos humanos e meio ambiente.

Instituições Internacionais

O liberalismo destaca o papel das instituições internacionais, como a ONU e a OMC, na facilitação da cooperação entre os estados, na promoção da paz e na resolução de conflitos. As instituições são vistas como meios de mitigar a anarquia internacional, estabelecendo regras e normas que guiam o comportamento dos estados.

Interdependência Econômica

A interdependência econômica, aumentada pela globalização, é outro pilar do liberalismo. Argumenta-se que os estados economicamente interligados têm menos probabilidade de entrar em conflito, pois a guerra prejudicaria ambos os lados economicamente.

Democracia e Paz

O liberalismo também sustenta a “teoria da paz democrática”, a ideia de que as democracias raramente entram em guerra umas com as outras. Isso é atribuído ao processo democrático, que encoraja a negociação e o compromisso, e à transparência e responsabilidade governamental.

Críticas e Desafios

Apesar de sua visão otimista, o liberalismo enfrenta críticas por, por vezes, subestimar a persistência do conflito e a complexidade das relações internacionais. Críticos argumentam que a cooperação internacional e as instituições nem sempre conseguem prevenir conflitos e podem, em alguns casos, exacerbar tensões.

Relevância Contemporânea

No século XXI, o liberalismo continua a oferecer insights valiosos sobre a natureza da cooperação internacional e o potencial para a construção de uma ordem mundial mais pacífica e justa. A ênfase nas instituições, na interdependência econômica e nos valores democráticos permanece crucial para entender e enfrentar desafios globais como a mudança climática, a proliferação nuclear e as crises humanitárias.

Construtivismo

O Construtivismo, uma abordagem mais recente, argumenta que as estruturas das relações internacionais são socialmente construídas. Alexander Wendt e outros construtivistas sugerem que as identidades e interesses dos Estados são formados por normas e ideias compartilhadas, e não apenas por imperativos materiais.

Teorias Críticas

Além dessas perspectivas, surgiram teorias críticas, como o Marxismo, o Feminismo, e a Escola de Frankfurt, que desafiam os fundamentos das teorias tradicionais. Elas questionam as estruturas de poder existentes, a desigualdade, e a marginalização dentro do sistema internacional, buscando não apenas entender o mundo, mas transformá-lo.

Como são muitas teorias, vou fazer um quadro com as principais e como elas respondem aos diferentes aspectos da disciplina.

Teorias Tradicionais e Pós-Modernistas

No campo das Relações Internacionais (RI), as teorias são geralmente categorizadas em perspectivas tradicionais e pós-modernistas, cada uma oferecendo diferentes lentes através das quais analisar a política global. As perspectivas tradicionais incluem o Realismo, o Liberalismo e o Construtivismo, que tendem a se concentrar na estrutura do sistema internacional, nos atores estatais, nas instituições internacionais e nas normas. Por outro lado, as perspectivas pós-modernistas desafiam essas noções, enfatizando a desconstrução de ideias estabelecidas, a crítica das narrativas dominantes e a importância do discurso, do poder e da identidade.

Aqui está uma explicação breve de cada perspectiva seguida por um quadro esquematizando suas principais características:

Perspectivas Tradicionais

  1. Realismo: Enfatiza a competição pelo poder entre os estados em um sistema internacional anárquico, onde a segurança é a principal preocupação dos estados soberanos.
  2. Liberalismo: Foca na possibilidade de cooperação entre os estados, destacando o papel das instituições internacionais, da interdependência econômica e dos valores democráticos na promoção da paz.
  3. Construtivismo: Argumenta que as estruturas internacionais são socialmente construídas através de ideias, normas e identidades, enfatizando a mudança e a variabilidade nas relações internacionais.

Perspectivas Pós-Modernistas

  1. Pós-estruturalismo: Questiona as estruturas e identidades fixas na política mundial, enfatizando a fluidez das identidades e o poder do discurso na construção da realidade.
  2. Feminismo: Analisa como as relações de gênero influenciam a política global, destacando a marginalização das mulheres e propondo uma reavaliação dos conceitos tradicionais de poder e segurança.
  3. Teoria Crítica: Busca desvelar as estruturas de poder subjacentes nas relações internacionais, promovendo a emancipação e a crítica às injustiças sociais e econômicas.

Quadro Esquematizando as Perspectivas

PerspectivaFoco PrincipalVisão de MundoAtenção a…
RealismoPoder e segurançaAnárquico e conflituosoEstados como atores racionais
LiberalismoCooperação e instituiçõesInterdependente e reguladoPapel das instituições, democracia
ConstrutivismoIdeias, normas e identidadesSocialmente construídoConstrução social da política global
Pós-EstruturalismoDiscurso e identidadeFluida e discursivaPoder do discurso na construção da realidade
FeminismoRelações de gêneroPatriarcal e excludenteMarginalização das mulheres, redefinição de poder
Teoria CríticaEstruturas de poder e emancipaçãoDominado por estruturas de poderInjustiças sociais e econômicas, emancipação

Este quadro resume as diferenças fundamentais entre as perspectivas tradicionais e pós-modernistas em RI, destacando seus focos principais, visões de mundo e preocupações específicas. Enquanto as perspectivas tradicionais tendem a aceitar certas premissas sobre a natureza das relações internacionais, as perspectivas pós-modernistas desafiam essas premissas e buscam revelar as complexidades subjacentes e as possibilidades de transformação na ordem global.

AspectoRealismoLiberalismoConstrutivismoMarxismoTeoria Crítica
Visão de MundoAnárquico e conflituoso, dominado por Estados soberanos.Cooperativo, com instituições internacionais e normas.Socialmente construído, enfatizando a importância das ideias, normas e identidades.Dividido em classes, com conflitos derivados da economia.Reflexivo e transformador, focando em emancipação e mudança social.
Atores PrincipaisEstados, considerados como atores racionais buscando poder.Estados, ONGs, MNCs e instituições internacionais.Estados e atores não estatais influenciados por ideias e normas compartilhadas.Classes sociais e forças econômicas globais.Indivíduos e grupos sociais em busca de emancipação.
InteressesSegurança e poder.Cooperação, paz e ganhos mútuos.Construídos socialmente, variáveis conforme identidades e normas.Luta de classes, emancipação do proletariado.Emancipação humana, superação de estruturas opressivas.
EstratégiasBalanço de poder, dissuasão.Instituições internacionais, regimes, lei internacional.Construção social de realidades, diálogo e persuasão.Revolução, crítica ao capitalismo.Reflexividade, crítica às estruturas sociais e políticas existentes.
Percepção de MudançaCético, mudança incremental dentro do sistema anárquico.Possível através de reformas, cooperação e regimes internacionais.Através da evolução de normas e identidades.Revolucionária, alterando a base econômica da sociedade.Fundamental, por meio da crítica, autoconsciência e ação coletiva.
Natureza do ConhecimentoObjetivo, baseado em interesses nacionais.Objetivo, mas reconhecendo o papel das percepções e ideias.Construído socialmente, intersubjetivo.Determinado pela estrutura econômica.Historicamente situado, com um foco na emancipação e interesses.

Este quadro oferece uma visão geral comparativa, destacando as diferenças fundamentais entre a Teoria Crítica e outras principais teorias das relações internacionais. Enquanto o realismo e o liberalismo se concentram mais nas estruturas e processos institucionais, o construtivismo e o marxismo destacam a importância das ideias, normas, e estruturas econômicas, respectivamente. A Teoria Crítica, por outro lado, une essas perspectivas com um foco na mudança social emancipatória, questionando e procurando transformar as estruturas de poder existentes.

Como pode ver, temos uma série de teorias importantes. Podem ser classificados de diferentes formas. Recomendo a leitura do meu outro post sobre teorias fora do mainstream, onde trago uma explicação para as Teoria Marxista, Teoria Crítica, Teoria Feminista, Teoria Pós-colonialista e Teoria Cepalina.

Livros sobre Teoria das Relações Internacionais

Além dos autores e obras fundamentais já mencionados para cada teoria das Relações Internacionais, existem outros contribuintes significativos que enriqueceram cada perspectiva com suas análises e teorias. Aqui estão alguns dos principais adicionais dentro de cada linha teórica, expandindo a compreensão de cada abordagem:

Realismo

  1. Thucídides – “História da Guerra do Peloponeso” (escrita no século V a.C.). Considerado por muitos como o precursor do pensamento realista, Thucídides analisou o poder e a política através do conflito entre Atenas e Esparta.
  2. Hans Morgenthau – “Politics Among Nations: The Struggle for Power and Peace” (1948). Este livro é frequentemente citado como o trabalho fundador do Realismo na teoria das RI, enfatizando o poder como o principal objetivo dos Estados.
  3. Thomas Hobbes – “Leviatã” (1651). Hobbes, com sua visão do estado de natureza caracterizado por uma guerra de todos contra todos, influenciou profundamente o pensamento realista sobre as relações anárquicas entre os estados.
  4. John Mearsheimer – “The Tragedy of Great Power Politics” (2001). Mearsheimer avança o conceito de realismo ofensivo, argumentando que os grandes poderes estão sempre em busca de hegemonia regional ou global.

Liberalismo

  1. Woodrow Wilson – Propôs os “Quatorze Pontos” (1918) como uma visão para a paz mundial após a Primeira Guerra Mundial, enfatizando a autodeterminação, o livre comércio e a formação da Liga das Nações.
  2. Immanuel Kant – “Para a Paz Perpétua” (“Zum ewigen Frieden: Ein philosophischer Entwurf”, 1795). Embora não seja um trabalho de RI per se, os princípios de Kant influenciaram profundamente o pensamento liberal, especialmente a ideia de que a paz é possível através da cooperação internacional e instituições democráticas.
  3. John Locke – “Segundo Tratado sobre o Governo Civil” (1689). Locke, com sua ênfase nos direitos individuais e no governo representativo, é frequentemente citado como uma influência fundamental para o liberalismo nas RI.
  4. Anne-Marie Slaughter – “A New World Order” (2004). Slaughter discute a importância das redes transnacionais de atores estatais e não estatais, ampliando o entendimento das capacidades de cooperação internacional.

Neorrealismo

  1. John J. Mearsheimer – Além de contribuir para o realismo, as ideias de Mearsheimer sobre o poder no sistema internacional também complementam o neorrealismo com sua ênfase na estrutura do sistema internacional.
  2. Kenneth Waltz – “Theory of International Politics” (1979). Waltz reformulou o Realismo, introduzindo o conceito de estrutura anárquica do sistema internacional como o determinante chave do comportamento estatal, fundamentando o Neorrealismo.

Neoliberalismo

  1. Ernst B. Haas – “The Uniting of Europe” (1958). Haas contribuiu para o entendimento do neoliberalismo através de sua teoria sobre integração regional e o papel das instituições na promoção da cooperação.
  2. Robert O. Keohane e Joseph S. Nye – “Power and Interdependence” (1977). Este livro desafiou as premissas realistas sobre o conflito internacional, argumentando que as relações econômicas e as instituições internacionais desempenham papéis cruciais na política mundial.

Construtivismo

  1. Alexander Wendt – “Anarchy is What States Make of It: The Social Construction of Power Politics” (1992, artigo). Wendt argumentou que a anarquia e as identidades estatais são construções sociais, o que foi fundamental para o desenvolvimento do Construtivismo nas RI.
  2. Kathryn Sikkink – “Ideas and Institutions: Developmentalism in Brazil and Argentina” (1991). Sikkink contribui com estudos de caso que demonstram como as ideias e normas influenciam as políticas estatais.
  3. Martha Finnemore – “National Interests in International Society” (1996). Finnemore examina como as normas internacionais moldam os interesses dos estados.

Teoria Crítica

  1. Robert W. Cox – “Social Forces, States and World Orders: Beyond International Relations Theory” (1981, artigo). Cox desafiou as teorias dominantes de RI, argumentando que elas servem a interesses particulares e promovendo uma análise que considera a mudança histórica e a possibilidade de transformação social.
  2. Andrew Linklater – “The Transformation of Political Community” (1998). Linklater explora a possibilidade de uma comunidade política global baseada em princípios de inclusão e diálogo.

Feminismo

  1. Laura Sjoberg – “Gender, War, and Conflict” (2014). Sjoberg analisa conflitos internacionais através de uma perspectiva de gênero, desafiando concepções tradicionais de guerra e segurança.
  2. Cynthia Enloe – “Bananas, Beaches and Bases: Making Feminist Sense of International Politics” (1990). Enloe explorou como o gênero influencia a política global, inaugurando uma nova dimensão de análise em RI.

Pós-Estruturalismo

  1. Jacques Derrida – “A Escritura e a Diferença” (1967). As ideias de Derrida sobre desconstrução influenciaram a crítica pós-estruturalista das narrativas dominantes em RI.
  2. Michel Foucault – “Vigiar e Punir” (1975). Embora Foucault não fosse especificamente um teórico das RI, suas ideias sobre poder, discurso e identidade influenciaram profundamente o Pós-Estruturalismo nas RI.

Marxismo

  1. Vladimir Lenin – “Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo” (1916). Lenin expandiu as ideias marxistas para explicar como o capitalismo conduz à expansão imperialista e à competição global.
  2. Immanuel Wallerstein – “O Sistema Mundial Moderno” (1974-1989). Wallerstein expande o marxismo com sua teoria do sistema-mundo, analisando a economia política global como um sistema capitalista integrado.

Escola Inglesa

  1. Martin Wight – “Power Politics” (1946; publicado postumamente em 1978). Wight contribui com uma análise das tradições de pensamento nas RI, incluindo a ideia de sociedade internacional que é central para a Escola Inglesa.
  2. Hedley Bull – “The Anarchical Society: A Study of Order in World Politics” (1977). Bull articulou a ideia de uma “sociedade internacional” regida por normas e instituições comuns, um conceito chave da Escola Inglesa.

Estas obras e autores adicionam profundidade e complexidade às principais teorias das Relações Internacionais, enriquecendo o diálogo e a compreensão sobre como os estados interagem no sistema internacional, como as estruturas globais são formadas e mantidas, e como mudanças podem ser efetivadas.

Curso de Introdução às Relações Internacionais

Espero que o Guia de Estudos das Teoria das RI tenha te ajudado. Para que possa iniciar os estudos, recomendo o curso gratuito de Introdução às Relações Internacionais elaborado pela ESRI.

Guilherme Bueno
Guilherme Bueno
esri.net.br

Sou analista de Relações Internacionais. Escolhi Relações Internacionais como minha profissão e sou diretor da ESRI e editor da Revista Relações Exteriores. Ministro cursos, realizo consultoria e negócios internacionais. Gosto de escrever e já publiquei algumas centenas de posts e análises.

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